Resumo
Este trabalho tem o objetivo de discutir, questionar
e refletir sobre o conhecimento matemático que o aluno traz
para escola e o seu distanciamento com o saber institucional veiculado
pela escola. Tomamos como fio condutor as contribuições
da Etnomatemática, vertente pedagógica da educação
Matemática que privilegia o conhecimento oriundo do meio Sociocultural
do aluno. Essa pesquisa foi desenvolvida no espaço institucional
de uma escola pública de Arenápolis- MT, com olhar para realidade
da sala de aula – alunos, professores, currículo - estabelecendo
relações com seu entorno, relatando tudo que pudemos ver
, sentir e vivenciar como contribuição para repensar educação
matemática voltada para uma visão holística do mundo.
Palavras chaves: Alunos, Etnomatemática e
Saberes.
O trabalho em pauta é fruto de mais de dois
anos de pesquisas (1998 e 1999), onde evidenciamos discussão, questionamento
e reflexão sobre conhecimento matemático que o aluno já
tem antes do convívio escolar e que parece não estar incorporado
no currículo da escola. Por isso preocupamos em analisar e
refletir sobre este distanciamento do saber que o aluno já traz
e o saber institucional existente na escola e suas implicações
na educação.
Neste processo de busca e reflexão, encontrei
mais perguntas que respostas, mas elas foram inevitáveis e enriquecedoras
visto que minha intenção é contribuir com um pensar
ou re-pensar crítico- construtivo. Assim tomei como fio condutor
as contribuições da etnomatemática, vertente pedagógica
da educação matemática, que privilegia o conhecimento
matemático, ligado ao meio sociocultural do aluno.
E ao falar em etnomatemática , verificamos
em nossas leituras que o termo é a união de várias
expressões destacadas por vários estudiosos, sendo sugerido
por D’Ambrósio. Ele explica o sentido etimológico da expressão
etnomatemática : Etno – sendo aceito como algo muito amplo no contexto
cultural, incluindo assim considerações como linguagem jargão,
códigos de comportamento, mitos e símbolos; Matema – seria
na direção de explicar, e conhecer e entender, e finalmente;
Tica (que vem de tchne) que é a mesma raiz de arte ou técnica
de explicar, de conhecer , de entender os diversos contextos culturais.
1 – Graduado em Matemática pela Universidade do Estado de Mato
Grosso – UNEMAT/ Campus Universitário Vale do Rio Bugres – Barra
do Bugres – MT (autor)
2 – Profª Ms. Pela Universidade Federal de Mato Grosso (orientadora)
Nesta pesquisa focalizamos, portanto o olhar
para realidade da sala de aula, estabelecendo, a partir daí as relações
com seu entorno aqui entendido como tudo aquilo que está ao seu
redor e que traz implicações para a prática
desenvolvida.
Tivemos a preocupação de relatar
tudo aquilo que pudemos ver, sentir e vivenciar como contribuições
significativa para um repensar da educação matemática
voltada para uma visão holística do mundo e da realidade.
Participaram deste trabalho alunos da 3ª
e 4ª séries do ensino Fundamental da Escola Estadual de 1ª
e 2º Graus “Senador Mário Motta”, localizada na Praça
07 de setembro, centro velho, Arenápolis – MT. Foram observados
os alunos e respectivos professores. Os alunos na maioria pertencem ao
segmento mais pobre da comunidade, formada por três pequenos bairros
de Arenápolis- MT. Para salientar que existe uma grande variação
de cultura, apontamos também que entre eles, 06 (seis) são
da zona rural e de localidades rurais diferentes.
Ainda para levantamento de dados achei necessário
recorrer os registros que são feitos da vida escolar dos alunos,
tanto de ordem documental quanto de ordem do cotidiano do aluno, com relação
ao aprendizado. Parece-nos muito importante demonstrar e entender a realidade
de cada turma ou mesmo de cada aluno em particular. Assim foi analisado:
Planejamento e cadernos dos alunos, além das entrevistas com professores
e dialogo com os alunos que participaram da pesquisa.
Observamos todos os recursos e materiais didático
que a escola tem disponível e que de fato existem e tem livre acesso
para os alunos e professores. A partir daí, verificamos que a escola
em discussão conta com um número razoável
de recursos e materiais didático tais como: revistas, jornais, kit
tecnológico, espaço físico e alunos com diversos saberes,
pois são crianças que precisam batalharem para sobreviverem,
e tudo isso se analisados podem ser de suma importância no
ensino de matemática e outras ciências .
Assim fizemos questão de relatar e fazer
alguns comentários sobre enfoques que nos chamaram atenção
tendo em vista a relevância que estes mereceriam se forem utilizados
adequadamente, pois estamos tão acostumados a considerar como materiais
didáticos apenas cinco itens que são utilizados com maior
freqüência tais como: Caderno, lápis, livro didático,
quadro –negro e giz, que fica mesmo difícil acreditar e aceitar
que várias outras coisas que existem dentro e fora de uma escola,
sejam importante para o aprendizado da matemática, e outras ciências.
Todos estes materiais, que deveriam ter uma conexão com o currículo
e prática de ensino aprendizagem parecem que não estão
incluídos.
Veja que ao falarmos em currículo,
poderíamos nos perguntar: Qual seria uma definição
de currículo? D’Ambrósio, (1998. p. 68), define. Currículo
é a estratégia para a ação educativa.
Esta citação leva-nos a refletir
sobre os currículos padronizados que circulam nas escolas os quais
não atendem a realidade sociocultural, tendo em vista como deveria
ser uma proposta de um currículo com compromisso de ensino aprendizagem
de qualidade, pois como diz o prof. D”Ambrósio, 1998. p.68. Ao analisar
currículo, identificamos seus três componentes: Objetivos,
Conteúdos e Método.
Fazendo uma comparação entre
a definição de currículo, e seus três componentes
citados acima, com os nossos dados encontrados na etnografia desse trabalho,
surge alguns elementos de discussões, a partir do que conseguimos
enxergar na averiguação e levantamento que tivemos oportunidades
de fazer. Detectamos em nossa análise que os objetivos não
estão afinados com os conteúdos propostos que por sua vez
não se afinam com os métodos que estão sendo aplicados.
Veja que ao analisarmos o planejamento, diário de classe, o caderno
de alunos, e o livro didático que foi utilizado, encontramos evidências
de que realmente existe um desencontro, pois o planejamento é cópia
do programa (índice geral do livro didático) e este planejamento
é um tanto sem explicações sobre os métodos
que seriam aplicados, para se chegar ao pobre objetivo elencado sem nenhuma
amarração. Ainda chamando a nossa atenção temos
o diário de classe que os registros é uma seqüência
de conteúdos que também tem uma grande semelhança
com o livro e planejamento, mas em momento algum o registro de uma atividade
nova com estratégia diferente, onde poderiam estar evidenciados
a consideração do pensamento , a história, a visão
de mundo, o meio cultural e os saberes de cada aluno. Porém o que
evidencia é que todos receberam tratamentos iguais e são
considerados homogêneos nos modos de pensar, e agir, lamentavelmente
encontramos planejamento de um ano para outro com as mesmas características,
onde os alunos são outros, o professor é outro, o tempo é
outro e no entanto o que se propõe em ensinar é a mesma coisa,
fugindo assim o princípio do que necessariamente tem por objetivo
um planejamento com compromisso de ensino –aprendizagem de qualidade sempre
com olhar direcionado aos anseios de quem quer aprender e que
já sabe muito. Penso que o professor ao planejar ele deve se indagar,
tentando buscar êxito em seus objetivos sendo necessário levar
em conta alguns questionamentos.
Quem é meu aluno? De onde veio? Qual é
sua história de vida? Quais são as suas vontades? Para onde
quer ir? Para que precisa saber matemática? Que contribuição
eu posso lhe oferecer? O que já conhece de matemática? Como
é sua família?
E assim teríamos inúmeros questionamentos
que nos instiga a buscar, entender que objetivos os nossos alunos têm,
para planejarmos e traçamos os nossos objetivos, quais seriam os
conteúdos necessários para alcançar tais objetivos
e que métodos aplicaríamos, pois se não discutimos
e procuramos conhecer quem é aquele que se propõe em
aprender (aluno) e o que temos para oferecer enquanto nos propomos a ensinar
(professor) podemos cometer um Ëpistemicídio”. (Extermínio
do conhecimento dos alunos), como explicava em sua fala professora Gelsa
Knijik: mesa redonda espaço aberto no VI ENEM, São Leopoldo
– RS 1.998.
Isto parece muito sério, pois segundo
D’Ambrosio explica (1.990 p. 7):
“Naturalmente manejar quantidade e consequentemente números, formas e relações geométricas, medidas, classificações, em resumo tudo o que é domínio da matemática elementar, obedece a direções muito diferente, ligados ao modelo cultural ao qual pertence ao aluno. Cada grupo cultural tem suas, formas de matematizar. Não há como ignorar isso e não respeitar essas particularidades quando do ingresso da criança na escola”.
Assim pensamos e nos preocupamos nesta proposta
de trabalho de iniciação a investigação científica
que assim se estruturou, sem pretensão de dar conta da complexidade
do fenômeno educacional que envolve fatores sócio econômicos
– políticos – culturais, mas julgamos de fundamental importância
a reflexão em torno de nossa prática pedagógica, fio
condutor que nos guiou nesta linha de investigação.
Uns fios se soltaram na tessitura da rede
do conhecimento outros se mantiveram firmes do início ao fim, outros
ainda permaneceram “à espreita”, aguardando novo ato artesanal.
Mas o importante é que todos eles alunos, saberes, currículo,
escolas, professores estão ai a nos instigar, a nos provocar...
Novas perspectivas podem se descortinar a
partir do momento em que cada um buscar e assumir que a educação
é um ato coletivo e que ninguém faz nada sozinho. Pensar
e repensar o currículo de matemática para o ensino fundamental,
e médio, a partir da etnomatemática pode ser um primeiro
passo. Iniciou aqui um desfio. Pois é questionável
quando ainda temos professores enxergando o ensino aprendizagem dessa forma
fechada e cheira de modelos que não mudam, pois como foi possível
enxergar em nossa busca, mesmo existindo vários trabalhos com discussões
avançadas no sentido da mudança, mostrando que temos de valorizar
o conhecimento dos alunos e no entanto os dados etnográfico nos
mostraram que isto não está sendo valorizado, e sim que o
professor prefere ficar ali seguindo a risca a velha tradição.
Precisamos mudar esta situação. Falar sobre o óbvio,
é muito difícil pois quem enxerga a escola de longe acredita
que tudo está bem, funcionando maravilhosamente e que ela cumpre
com seu papel, porém a partir de uma observação mais
detalhada sentimos que existe coisas que não estão em sintonia
com a nossa realidade, e estas situações desafinadas é
que merecem uma atenção especial para obtermos uma escola
agradável e que realmente atenda os anseios da comunidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Obs. Necessitarei apenas de retroprojetor para apresentação.