Natália Miranda
Pedro Paulo Scandiuzzi
Resumo: Através de um poema, apliquei as definições de problema, matemática e resolução de problemas. Com esses recursos resolvi o problema matemático do poema Desejo, utilizando recursos transdisciplinar sinalizando a compreensão do tema etnomatemática.
Palavras chaves: etnomatemática, raciocínio lógico e ensino aprendizagem.
Introdução: A procura de novas visões
do ensino que vivenciamos na virada do milênio , surge a necessidade
de se criar novas formas de pensar e encaminhar métodos de ensino
para a Matemática. Sendo assim, temos a opção de refletir
sobre Resolução de Problemas Matemáticos, que através
da etnomatemática diferencie da forma tradicional.
Etnomatematica entendo por:
etno: grupo social que está
à procura da solução;
matema: conhecer, explicar, medir relacionar, comparar...
tica: arte, técnica
(grego).
Para fazer pesquisa em etnomatemática compreendo que seja
preciso: a) etnografia, b) história da matemática e c) educação.
A etnomatemática estuda a matemática nas
suas relações com o conjunto da vida cultural e social. Sabemos
que no mundo há povos e culturas diferentes e suas lógicas
consequentemente também são.
Para estudarmos a matemática de uma outra cultura, temos
de ter em mente que a etnomatemática respeita a maneira do desenvolvimento
da cultura. Em momento algum devemos dizer que a “nossa matemática”
é a melhor e outra é errada, devemos respeitar a cultura
estudada.
A resolução de um problema não rotineiro
pode exigir do aluno um verdadeiro esforço, melhor motivação
e interesse pelo problema. Temos que de ter muito cuidado ao escolher um
problema para adequá-lo ao interesse do aluno.
O importante é fazer com que a idéia venha do aluno
para escolher o problema a ser analisado, e o professor deve ser apenas
um parceiro, evitando a interferência excessiva em alguma idéia
do aluno. Deve, desta maneira ensinar os alunos a refletir, encontrar hipóteses,
procurar caminhos para possíveis soluções, quer seja
através de uma música, um poema, qualquer receita de comida,
uma história infantil, seja de gibi ou livro e entrevistas.
Para podermos analisar estes problemas, utilizaremos as definições:
de acordo com a Proposta Curricular para o Ensino de Matemática para o ensino médio (1989, p.10), entende-se por problema:
uma situação que desafie
o aluno a refletir, a levantar hipóteses, a
procurar caminhos para solucioná-lo,
a buscar novas aplicações de
conceitos e a profundar a compreensão
dos mesmos, a exercitar a
criatividade e a generalizar propriedades, a descobrir
outras soluções
e a discuti-la, verificando as
condições para que sejam válidas.
Enquanto que D'Ambrósio (1996, p.07), visualiza Matemática:
como uma estratégia desenvolvida pela espécie
humana ao longo de sua
história para explicar,
para entender, para manejar e conviver com a
realidade sensível, perceptível
e com o seu imaginário, naturalmente
dentro de um contexto natural e cultural.
Resolver problema para D'Augustine (1981, p.17), é: o processo
de
reorganizar conceitos e habilidades aplicando-os a uma nova situação
atendendo a um objetivo.
Objetivo: Nosso objetivo é ensinar uma resolução de problema matemático mostrando um lado novo da matemática, diferenciado do método tradicional, fazendo com que o aluno tenha uma nova visão, usufruindo assim de conceitos como: biologia, português, história, geografia, etc., para a sua resolução.
Desenvolvimento do tema: Entre as práticas na sala de aula, resolvi escrever sobre um poema de autor Hélio Marques, encontrado em uma das ruas de São José do Rio Preto, no ano de 1998.
DESEJO
Beija-me, como nunca beijaste antes;
Beija-me, não, não me diga nada;
Deixa nossas emoções falarem por si só...
Abraça-me, e sinta nossos corpos queimando em desejo;
Sonhe com meus sonhos,
Fantasie minhas fantasias, busque em minha alma,
Todos os meus segredos, e se encante com o que tenho a oferecer...
Aprenda a desvendar meus mistérios e meus medos;
Passivamente aceite meus carinhos e as minhas carícias...
Ensina-me, tua essência e os teus prazeres...
Ama-me, ama-me muito, como eu amo e desejo você.
Hélio Marques
Apresentei este poema em escolas de ensino médio, na faculdade
e em um mini-curso destinado à professores da rede pública
da Argentina, com êxito.
Já no início podemos refletir sobre algumas hipóteses
retiradas do poema.
Ao começar a se expressar, Hélio Marques deixa
uma certa ambigüidade; tal característica é notada quando
escreve: Beija-me, como nunca beijaste antes.
Analisando este primeiro verso podemos concluir que existem duas
possibilidades relacionadas a pessoa que se refere o poema: a) Hélio
Marques conhece a pessoa e tem com ela certa intimidade a ponto
de pedir beijos mais intensos que leva-nos a crer que já haviam
se beijado antes ou, nunca haviam se beijado e pede para esta pessoa o
melhor beijo de sua vida; b) a possibilidade de ser uma fantasia
ou, um forte desejo de beijar ou ser beijado por alguém que, em
certo momento, interrompe-o sem o abalar dizendo, Beija-me, não,
não me diga nada; pedindo, para que deixem apenas as emoções
falarem, Deixa nossas emoções falarem por si só; tentando,
assim, despertar um desejo recíproco.
Pela definição de problema, vamos refletir em busca
da solução. Por definição de matemática,
vamos explicar e entender as hipóteses.
Quem é esta pessoa? Um homem, uma mulher, casada ou não?
E Hélio, será que é casado? É alguém
conhecido apenas por ele, ou por ambos?
Como a pessoa a quem o autor se refere pode ser conhecido por
ele ou por ambos, desta forma é necessário dizer que a pessoa
a quem Hélio diz amar pode ser real ou uma ilusão criada
na ânsia de amar e ser amado e, que tal amor pode ser amor de amor,
amor de amigo, amor de sexo, amor financeiro, amor de filho, amor de irmão,
amor por um vício, ou até quem sabe nenhuma dessas hipóteses.
A pessoa referida no poema pode ser alguém muito jovem
ou mais madura e experiente que Hélio, tornando esse amor impossível.
Ao mesmo tempo surge a hipótese de que a pessoa ame o
autor mas, como o poema trata-se de Hélio amando alguém sem
ser correspondido com a mesma intensidade, ele precisa procurar um caminho
para solucionar sua situação e resolver seu problema, ou
seja, tentar conquistá-la sem esconder seus sentimentos, armando-se
apenas do seu "eu" verdadeiro para alcançar seu objetivo.
Buscando novas aplicações de conceitos, vale
ressaltar que vivemos em uma sociedade burocrática em que tudo é
tradicionalmente cheio de regras e convenções.
Aprofundando a compreensão dos mesmos, seria fácil
explicar tal sentimento, sendo ele dirigido a uma mulher, solteira, bonita,
jovem, conhecido por ambos, sem no entanto, trocarem emoções
repletas de desejo.
Por outro lado existe um obstáculo para esse amor, o egoísmo
de Hélio em querer que tudo seja do seu modo quando ele escreve,
Sonhe com meus sonhos; Fantasie com minhas fantasias, busque em minha alma;
Todos os meus segredos, e se encante com o que tenho a oferecer.
Podemos observar na poesia que ele pede para a pessoa amada desvendar
seus mistérios e medos, aceitando passivamente os carinhos e carícias,
Aprenda a desvendar meus mistérios e meus medos; Passivamente aceite
meus carinhos e minhas carícias; com isso podemos concluir que a
pessoa pode ser um homem, uma mulher casada ou até mesmo alguém
com problema físico ou mental.
Verificando o poema com mais precisão, vamos criar, generalizar
as propriedades para podermos descobrir outras soluções e
discuti-las, analisando as condições para que sejam válidas.
Caso esta pessoa que Hélio ama seja um homem ele pode
ser casado, pai de família, e amá-lo de modo que a relação
possa se concretizar. Como o poema trata-se d autor amando alguém,
então podemos concluir que o próprio é quem ama uma
pessoa conhecida por ele, mas nunca trocaram intimidades, Beija-me, como
nunca beijaste antes; Deixa nossas emoções falarem por si
só.
Esta pessoa quem o autor ama está ciente do amor como
um todo e do desejo que o mesmo sente por ela, Beija-me, não, não
me diga nada.
O autor está conseguindo tornar realidade seu desejo,
Deixa nossas emoções falarem por si só; que neste
momento, está descrito no poema repleto de desejo e segredos.
De acordo com a definição de resolver problema,
vamos reorganizar os conceitos aplicados a uma nova situação
para atender nosso objetivo.
Hélio é solteiro e ama uma pessoa com o sentimento
mais bonito que existe chamado amor de amor, Ama-me, ama-me muito, como
eu amo e desejo você; essa pessoa é solteira e mais jovem,
pois o autor faz certa chantagem emocional para que o amor de sua vida
se comova e retribua esse amor: uma vez que tal sentimento é conhecido
pela parte oposta, embora nunca tenham trocado intimidades.
Esta pessoa tem o mesmo prazer sexual que Hélio, Deixa
nossas emoções falarem por si só; Abraça-me,
e sinta nossos corpos queimando em desejo; Ensina-me, tua essência
e os teus prazeres; logo, se este declarar seu amor, tem grande chance
de tornar realidade um amor tão sonhado, bonito e desejado.
Entretanto a pessoa tem que aceitar passivamente os carinhos,
carícias e ao jeito egoísta de Hélio.
Conclusão: Sabemos que Hélio queria expressar de
alguma maneira o amor que sentia por alguém, convivendo com a realidade
sensível, perceptível e com o imaginário, dentro do
contexto do poema.
Podemos concluir que este método pode ser aplicado para o ensino
fundamental, médio ou superior, pois ensina o aluno a pensar e ter
a noção que a matemática está em seu cotidiano.
Na aplicação deste poema, nos locais já
mencionados, fui deixando alunos e professores à vontade para participarem
com perguntas e respostas, dando a oportunidade de todos externarem o que
estavam pensando, alguma dúvida e o que perceberam de novo.
Tendo em vista a aceitação dos alunos e a forma como
discutiram o poema, refletindo, levantado hipóteses, procurando
caminhos para possíveis soluções, ou seja, aplicando
as definições escolhidas, o objetivo principal foi alcançado
pois eles perceberam várias definições para
problema e matemática.
Com isso observamos que os alunos concordaram que a matemática
não resume-se apenas em contas e em números, mas sim
no seu cotidiano.
Concluo, que este estágio aponta e amplia novos caminhos da
metodologia de resolução de problemas matemáticos.
Referências Bibliográficas:
D'AMBRÓSIO, Ubiratan. Educação Matemática
- Da teoria à prática Coleção:
Perspectiva em Educação Matemática. 1996
D'AUGUSTINE, Charles H. Métodos Modernos para o Ensino da
Matemática. Rio de Janeiro. Ao Livro Técnico S/A - Indústria
e Comércio. 1981
SÃO PAULO (Estado) - Secretaria da Educação. Proposta
curricular de Matemática para o ensino médio, São
Paulo, SE/CENP. 1979