Resumo
Este artigo apresenta a Etnomatemática como uma metodologia
adequada ao redirecionamento proposto pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio, PCNs. Eduardo Sebastiani Ferreira
vem apresentando (vide Bibliografia) esta proposta metodológica
onde a modelagem matemática acontece depois da análise da
pesquisa de campo. O importante a ressaltar é que esta proposta
só tem significado quando ela resulta numa ação no
contexto social onde se encontra a comunidade escolar que está trabalhando
com a referida metodologia.
Palavras-chave: Etnomatemática, Modelagem Matemática e Parâmetros Curriculares Nacionais
Introdução
Existe uma preocupação entre educadores, que perpassa
tanto a lei LDB/96, assim como seu detalhamento e encaminhamento pela Resolução
CNE/98, como os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio,
PCNs, no sentido de que se produza conhecimento de significado próprio,
efetivo. A busca de contextualização e a preocupação
com a interdisciplinaridade apontam para um trabalho com uma relação
íntima com a Etnomatemática.
O estudante de nível médio, de acordo com sua faixa etária,
já possui uma integração à vida comunitária,
sendo muitas vezes o interlocutor entre a cultura de seu grupo e a cultura
escolar.
Uma vez que os objetivos do Ensino Médio da área da disciplina
Matemática envolvem o desenvolvimento de conhecimentos práticos
contextualizados combinados com o desenvolvimento de conhecimentos mais
amplos e abstratos, que correspondam a uma cultura geral e a uma visão
de mundo. A Etnomatemática como metodologia é um caminho
para que esses objetivos sejam atingidos.
Desenvolvimento do tema
Cada aprendiz ao entrar na escola traz consigo sua realidade, o professor
precisa conhecer essas realidades. É o ponto de partida para o caminho
a ser percorrido, conhecer a realidade da comunidade, do grupo, de cada
aluno. Questões povoam as mentes, a pergunta é devolvida
com um convite de partir para o “campo” para pesquisar. Esse caminho é
uma etnografia.
Nos trabalhos que temos desenvolvido procuramos um tema que toda a
escola e sua comunidade, não só o professor e o sistema escolar,
mobilizem-se e se envolvam para produzir a etnografia. Cabe ao professor
analisar a viabilidade de tal tema e ao analisar o levantamento seleciona
as perguntas a serem respondidas. O ambiente escolar deve fornecer condições
de trabalho, para que uma vez modelada as questões, a matemática
acadêmica possa dar conta de responder as perguntas levantadas. Ao
final a habilidade de modelar uma situação, desmembrar em
partes uma questão e modelar de forma que a utilização
da matemática escolar solucione as questões, promove uma
transformação educacional pretendida, a competência
de lidar com uma situação “nova” utilizando a bagagem adquirida.
Algumas vezes recorremos a abordagem histórica, o que nem sempre
é possível.
De acordo com Sebastiani o esquema abaixo seria a síntese do
movimento relatado:
Realidade
Escola
Etnografia Etnologia
As setas que partem da solução mostram que nem sempre
o “resultado” apresenta um fim em si mesmo. A modelagem é que permite
que o “sistema” ao ser discutido seja classificado em impossível,
possível e determinado, ou possível e indeterminado, de acordo
com o número de soluções encontradas.
A meta é uma ação para mudar a realidade, assim
como um cidadão consciente possui uma postura crítica, o
que condiz com o exercício da cidadania. A modelagem, a Matemática
são ferramentas colocadas ao alcance do aprendiz para que ele possa
argumentar com fundamento.
A condução de um aprendizado com essas pretensões
formativas, mais do que do conhecimento científico e pedagógico
acumulado nas didáticas específicas de cada disciplina da
área, depende do conjunto de práticas bem como de novas diretrizes
estabelecidas no âmbito escolar, ou seja, de uma compreensão
amplamente partilhada do sentido do processo educativo. O aprendizado dos
alunos e dos professores e seu contínuo aperfeiçoamento devem
ser construção coletiva, num espaço de diálogo
propiciado pela escola, promovido pelo sistema escolar e com a participação
da comunidade.
Dessa forma o aprendizado não é centrado na interação
individual de alunos com materiais instrucionais, e nem se resume à
exposição de alunos ao discurso professoral, mas o que se
realiza é uma participação ativa de cada um de e para
o coletivo educacional, numa prática de elaboração
cultural. A expectativa é que na sociedade ele continue a trabalhar
dessa forma.
A metodologia etnomatemática contribui para o desenvolvimento
de processos de pensamento e a aquisição de atitudes, cuja
utilidade e alcance transcendem o âmbito da própria Matemática,
podendo formar no aprendiz a capacidade de resolver problemas genuínos,
gerando hábitos de investigação (etnografia), proporcionando
confiança e desprendimento para analisar (etnologia) e enfrentar
situações novas (modelagem), além de desenvolver a
criatividade e outras capacidades pessoais (solução ou retorno
a uma das fases anteriores.)
No percurso do modelo até a solução o aprendiz
está usando um conjunto de técnicas e estratégias,
a Matemática num caráter instrumental da Matemática
no Ensino Médio, ela deve ser vista pelo aluno como um conjunto
de técnicas e estratégias para serem aplicadas a outras áreas
do conhecimento, assim como para a atividade profissional. Não se
trata de os alunos possuírem muitas e sofisticadas estratégias,
mas sim de desenvolverem a iniciativa e a segurança para adaptá-las
a diferentes contextos, usando-as adequadamente no momento oportuno.
Nesse sentido, é preciso que o aluno perceba a Matemática
como um sistema de códigos e regras que a torna uma linguagem de
comunicação de idéias e permite modelar a realidade
e interpretá-la.
A metodologia etnomatemática auxilia no desenvolvimento
da autonomia e da capacidade de pesquisa, elevando a auto-estima, pois
o aprendiz confia no seu conhecimento. E entende sua formação
como continuada e seguirá aperfeiçoando-se ao longo da vida.
Seu grande ganho foi “saber aprender”.
A sociedade de hoje, que se adapta ao impacto da tecnologia,
a um mundo de constante movimento, exige um redirecionamento que favoreça
o desenvolvimento de habilidades e procedimentos que possibilitem ao cidadão
reconhecer-se e orientar-se nesse mundo.
A metodologia etnomatemática promove habilidades como
selecionar informações (etnografia), analisar as informações
obtidas (etnologia) e, a partir disso, tomar decisões que exigirão
linguagem, procedimentos, estratégias, técnicas e formas
de pensar matemáticas (modelos matemáticos) para solucionar
a questão levantada. Uma vez encontrada uma, nenhuma, ou várias
soluções, retornamos a questão inicial para checarmos
a adequabilidade da solução. Nesse momento desenvolvemos
as habilidades de avaliar limites, possibilidades e adequação
das soluções à realidade.
Em 1986, Sebastiani chamava de Etnomatemática a uma Matemática
codificada no saber fazer. Em 2000 os PCNs enfatizam este saber fazer:
“Assim, as funções da Matemática descritas anteriormente
e a presença da tecnologia nos permitem afirmar que aprender Matemática
no Ensino Médio deve ser mais do que memorizar resultados dessa
ciência e que a aquisição do conhecimento matemático
deve estar vinculada ao domínio de um saber fazer Matemática
e de um saber pensar matemático”.
Conclusão
Num parágrafo dos PCNs, o primeiro a tratar dos conhecimentos
matemáticos diz o texto “À medida que vamos nos integrando
ao que se denomina uma sociedade da informação crescentemente
globalizada, é importante que a Educação se volte
para o desenvolvimento das capacidades de comunicação, de
resolver problemas, de tomar decisões, de fazer inferências,
de criar, de aperfeiçoar conhecimentos e valores, de trabalhar cooperativamente.
A metodologia etnomatemática permite que o importante descrito
neste primeiro parágrafo seja contemplado. Além da escola
assumir um outro papel que seria o de apresentar alternativas para as questões
levantadas na comunidade em que ela está inserida.
Numa outra dimensão seria o mesmo papel que a pesquisa e os
pesquisadores representam para a sociedade do planeta Terra, de um modo
mais amplo.
Um curso de Matemática que use a metodologia etnomatemática
teria um aprendiz capaz de compreender conceitos e procedimentos matemáticos.
Mais que isso, esses conceitos e procedimentos seriam fundamentos para
suas conclusões e argumentações, tanto para seu papel
como consumidor prudente assim como para tomar decisões em sua vida
pessoal e profissional.
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