Josias Alves de Melo Filho
Resumo
O presente trabalho encontra-se concentrado em tratar de uma face do
problema, que é o baixo índice de aproveitamento em matemática
no ensino fundamental das escolas públicas de periferia. É
possível que o problema esteja relacionado com o tipo de metodologia
aplicada pelos professores, que geralmente mal preparados, não levam
em consideração fatores importantes como o contexto social,
econômico e cultural dos educandos, o currículo vigente e
a possibilidade de adotar uma postura de qualificação permanente
para si e seus educandos, no sentido de transformar a educação
em instrumento de formação ampla, de luta pelos direitos
de cidadania e de emancipação social.
Palavras-chave: exclusão social, metodologias diferenciadas, cidadania.
Introdução
Nos últimos anos temos visto o acirramento das críticas
contra a forma como a escola vem trabalhando os conteúdos escolares.
A matemática não é exceção. Ao contrário,
talvez seja uma das áreas onde mais se verifica a aplicação
da didática desprovida de sentido prático. O reconhecimento
desse fato tem sido fonte de preocupações de grupos de pesquisas
e estudiosos no mundo inteiro. Uma dessas fontes de preocupação
tem sido a organização do ensino de matemática num
nível meramente representacional. Quando isto ocorre, comete-se
o erro de não considerar as categorias conceituais que as crianças
já têm sobre os objetos de conhecimento e tiramos delas a
oportunidade de interação com eles e de explicarem fenômenos
que entendem, assim como de explorarem e reelaborarem conceitos que já
possuem.
Objetivos
Analisar sob o ponto de vista metodológico, o problema do baixo
índice de aproveitamento em matemática no ensino fundamental
evidenciado nas escolas públicas periféricas.
Mostrar a possibilidade de se adotar uma postura de qualificação
permanente para si e seus educandos, levando a uma mudança efetiva
de filosofia pedagógica que atinja, em última instância,
o âmbito social.
Desenvolvimento do tema
O conjunto das políticas sociais implementadas nas últimas décadas, muito pouco tem contribuído para amenizar as condições de pobreza da população brasileira. Ao contrário, as carências se acumulam e se sobrepõem numa espiral crescente, desafiando possíveis soluções. Os programas sócio assistenciais vêm se revelando inócuos e têm pequeno destaque nas intervenções governamentais, prestando-se mais ao clientismo utilitário do que ao enfrentamento efetivo da pobreza. No entanto, criar condições para que os excluídos caminhem na direção de sua constituição como cidadãos é parte das tarefas socioeducativas e políticas de uma assistência social que não sirva à reiteração da subalternidade de seus usuários. Na sociedade capitalista, os segmentos excluídos são privados não apenas do consumo de mercadorias e da riqueza social, mas também muitas vezes do conhecimento necessário para compreender a sociedade em que vivem e as circunstâncias em que se encontram.
No Brasil, o fracasso escolar generalizado é tomado como normal, fazendo da escola mais que tudo um sistema de seleção, absolutamente à revelia da lei; a repetência ainda é muito mais comum que a aprovação, observando-se ainda que tal seletividade se volta tipicamente contra as camadas mais pobres, destruindo nisto o sentido principal de equalização de oportunidades.
Sem dúvida, é a matemática a disciplina mais chamada na hora de arbitrar para a cidadania. É ela quem mais reprova e portanto é uma das grandes responsáveis pela exclusão de grande parte da população. Todo processo seletivo, alguns necessários, outros não, que a sociedade se vê obrigada a empregar, quando se tem mais competidores do que se necessita ou baixa capacidade de absorção, é a matemática solicitada a colocar o demarcador. Podemos então dizer que quando se fala com vinculação entre cidadania e educação marcada pela excludência, é a matemática a grande responsável.
No decorrer dos séculos, a escola incorporou a imagem de apolítica, verdade absoluta e outros adjetivos que servem muito bem para que a elite a use no sentido de demarcador do status de cidadania. A escola foi e é uma reprodutora desse status no sentido de colaborar como precondição à cidadania. Como escreveu Arroyo em seu livro Educação e exclusão da cidadania: “Ainda bem que o povo comum tem outras escolas, onde aprende a ser sujeito de direitos e a lutar por eles, sem fugir das cidades, das fábricas e das complexas empresas modernas”.
É então nessas “escolas”, diferentes da escola institucional que se dá o processo interno da prática social e política das classes e é onde nasce de fato a cidadania. É nelas que devemos encontrar o conhecimento que deveria dar o status de cidadão; enquanto estivermos esperando da educação o grande milagre de configurar o novo homem livre para o novo mercado econômico, social e político; enquanto não estiverem todos aptos a entender os valores da nova ordem, enquanto não estiverem constituídos cidadãos por obra e graça da educação, uma minoria sábia, esclarecida, moderna e racional, governará e decidirá por todos.
Este tipo de educação e principalmente de educação matemática decidida por uma elite sábia, esclarecida e racional hoje já não satisfaz os anseios da sociedade, e é por esses motivos que essa sociedade esclarecida com seu status diferente do estabelecido, solicita algo mais da escola que temos.
Não é que sejamos a favor do corte indiscriminado nos conteúdos de matemática do ensino fundamental e médio, mas sugerimos uma análise profunda do que se tem hoje como proposta de currículo, no sentido de se detectar assuntos ultrapassados, obsoletos, desinteressantes e sem significado no contexto dos educandos, para que dêem lugar a um aprofundamento maior nos conteúdos que efetivamente podem contribuir para uma educação matemática dotada de significado prático e eficiente para resolver problemas do dia-a-dia, com enfoque crítico, criativo e de fundo reconstrutivista.
Levando-se em conta que o contexto sócio-econômico e cultural é importante na definição de tais conteúdos, acreditamos não ser possível a determinação de um currículo único, aplicado indiscriminadamente a realidades distintas, bem como procuramos mostrar neste trabalho, que a metodologia da educação matemática deve ser diversificada, dependendo do contexto cultural, social e econômico dos educandos, pois, se assim não for, ficam tolidos do direito de aprender criativamente e criticamente, já que lhes serão impostos conteúdos desprovidos de significado e o que é pior, acompanhados de métodos de ensino arcaicos e desinteressantes, que só contribuem para a manutenção de uma “educação bancária”1onde o que conta é a repetição e a reprodução de conhecimentos cristalizados, desprovidos de significado e sentido.
Para que sejam favorecidos os mais favorecidos e desfavorecidos os mais desfavorecidos, é necessário e suficiente que a escola ignore, no âmbito dos conteúdos do ensino que transmite, dos métodos e técnicas de transmissão e dos critérios de avaliação, as desigualdades culturais entre as crianças das diferentes classes sociais. Em outras palavras, tratando os educandos - por mais desiguais que eles de fato sejam - como iguais, o sistema escolar é levado a dar sua sanção às desigualdades iniciais diante da cultura.
A igualdade formal que pauta a prática pedagógica serve como máscara e justificação para a indiferença no que diz respeito às desigualdades reais diante do ensino e da cultura transmitida, tornando a escola palco da reprodução das classes dominantes e dominadas.
No entanto é possível que a porta aberta pelo investimento e interesse do mercado no ensino e treinamento especializado, deixe entrar desapercebidamente um tipo de educação crítica , libertadora e com qualidade política que possibilite aos educandos atuarem de forma questionadora diante do quadro de inflexibilidade das classes sociais2. E, em isto acontecendo, estaremos prontos para transformações sem precedentes.
Conclusão
É necessário, por parte dos professores e das instituições
educacionais, a adoção de uma nova postura frente aos problemas
postos, na verdade a busca de um novo paradigma de educação,
deve substituir o já desgastado ensino-aprendizagem, baseado numa
relação obsoleta de causa e efeito. Paradigma este, baseado
no desenvolvimento da criatividade desinibida e que conduz a novas formas
de relações interculturais que devem proporcionar o espaço
adequado para a equidade social e cultural.
Portanto, para pensar numa mudança é preciso antes de
tudo tercoragem, é preciso ousar, criar e experimentar, é
preciso buscar uma mudança de modelos para testar e avaliar o potencial
de nossos alunos e vê-los sob uma perspectiva de competência,
não apenas formal, mas também política. O que significa
antes de tudo um teste e avaliação de nós mesmos enquanto
profissionais.
Bibliografia
BICUDO, Maria A. Viggiani (org.). Pesquisa em educação
Matemática: concepções e perspectivas. São
Paulo: UNESP, 1999.
BOURDIEU, Pierre . Escritos de Educação. Petrópolis:
Vozes, 1998.
CARRAHER, Terezinha N. Aprender pensando. Petrópolis: Vozes,
1988.
D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Educação para uma sociedade
em transição. Campinas: Papirus, 1999.
DEMO, Pedro. Charme de Exclusão Social. São Paulo:
Autores Associados, 1998.