CO37: Vida, Cores e Matemática: As cores e o crescimento das Plantas
Eliana das Neves Areas, José Luis Domingues, Maria Aparecida de Souza, Maria Silvia Leite Zampieri, Vânia Maria Franchi Padoveze

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo verificar algumas noções a respeito da influência das cores no crescimento das plantas, os quais são transferidos de geração para geração entre os agricultores, em geral, sem conhecimento científico sistematizado. Neste contexto, partimos de noções étnicas e utilizamos a modelagem matemática para verificação das mesmas. O grupo realizou um experimento para verificação da influência das cores na germinação e crescimento de alpiste (Phalaris Canarienses), procurando garantir condições idênticas quanto a fatores externos que influenciam na fotossíntese. A partir dos dados obtidos, construímos gráficos de comparação cuja análise revelou que o crescimento da planta foi maior sob ação da luz vermelha, fator já conhecido das pessoas que lidam com germinação/crescimento de plantas.

INTRODUÇÃO

 “As cores e o crescimento das plantas” é parte do trabalho de especialização em modelagem matemática realizado na UNICAMP, no período de 1999 – 2000, cujo tema era CORES. Ao investigarmos a utilização das cores nos mais diversos segmentos, nos deparamos com a informação de que um agricultor utilizava plástico vermelho em seu roseiral. Ao ser indagado, ele não soube responder o  porquê do plástico vermelho mas sabia que era a melhor cor para que os botões de rosas ficassem maiores
EXPERIMENTO:
Partindo desta informação fizemos o seguinte experimento:

PROCEDIMENTO 1) Foram construídas 5 caixas de papelão, com ventilação, tampadas com papel celofane duplo, nas cores: azul, amarelo, vermelho, verde e outra com papel transparente (considerando o padrão);
2) Em cinco recipientes com terra vegetal e água, foram depositadas sementes de alpiste (Phalaris Canariensis);
3) Cada recipiente foi colocado dentro de uma das caixas coloridas;
4) As caixas foram colocadas em condições idênticas quanto ao meio ambiente e luz solar, de tal forma que durante o experimento a planta recebesse apenas a luz colorida correspondente à tampa da caixa;
5) Após a germinação das sementes, foram feitas modificações para acompanhar o crescimento das plantas dia a dia.
DADOS OBTIDOS
     NO
EXPERIMENTO A germinação das sementes ocorreu no 3º e 4º dias após o plantio. As medições iniciaram-se a partir do 2º dia após a germinação. Os dados obtidos estão nas tabelas a seguir.

 CAIXA
VERMELHA  CAIXA
AMARELA  CAIXA
AZUL  CAIXA
VERDE  CAIXA TRANSPA
RENTE
Dia Altura
(cm)  Altura
(cm)  Altura
(cm)  Altura
(cm)  Altura
(cm)
1º 1,0  0  1  0  0
2º 2,0  1,0  2  1  1
3º 3,5  2,0  3,5  1,5  3
4º 5,0  3,5  4,5  2,5  4
5º 7,0  5,0  6,0  3,5  6,5
6º 9,0  7,0  7,5  5  7,5
7º 9,5  8,0  8  6  8
8º 10  8,5  9  7,5  8,5
9º 11  9  9,5  7,5  9
10º 12  10  10,5  8  9,5
11º 12  10  11  8,5  10,5
12º 12,5  10,5  11  9  10,5
13º 12,5  10,5  11,5  9,5  11
14º 12,5  10,5  11,5  9,5  11
 
 

O sol é a nossa fonte de energia. A fotossíntese é o processo pelo qual a energia luminosa é captada e convertida em energia química (açúcar) que auxilia no crescimento das plantas. Ela ocorre em estruturas das células das plantas chamadas cloroplastos que produzem a clorofila: pigmento que torna verde os vegetais, pois reflete a luz verde e absorve o vermelho e o azul.
Os carotenóides e as ficobilinas são pigmentos acessórios que absorvem luz em comprimento de onda diferente da clorofila, mas a energia luminosa absorvida por eles é cedida para a clorofila. Em nosso experimento, foi feita a leitura da absorbância do papel celofane (5 cores diferentes), para conferir os respectivos comprimentos de ondas.
Procuramos garantir que todas as caixas estivessem sob condições idênticas quanto a fatores externos que influenciam na fotossíntese: concentração de CO2 no ar, temperatura, intensidade luminosa e concluímos que a variação no crescimento das plantas ocorreu devido aos diferentes comprimentos de ondas das cores utilizadas, pois este é um importante fator externo que deve ser considerado na fotossíntese.

CONCLUSÃO:
Analisando-se os gráficos obtidos, observamos que o crescimento da planta foi maior sob ação da luz vermelha e a seguir para azul; transparente (padrão), amarelo e verde, em ordem decrescente de crescimento.
Para verificar se as conclusões obtidas no experimento tinham aplicabilidade fomos conversar com agricultores que cultivam flores em Holambra. Verificamos que a maioria das estufas são cobertas com plástico branco transparente (inverno) e branco leitoso (verão),  pois “entra toda luz e mais um pouco”. Encontramos no sítio do Sr. Joost, que cultiva kalanchoe, uma estufa coberta com plástico azul, ao indagarmos o porquê ele nos informou que nesta estufa são colocadas as “plantas matrizes usadas para dar mudas: as plantas crescem mais e não florescem, dão grande quantidade de brotos”.  Obtivemos,  ainda, outras informações tais como: - o emprego do plástico azul na cultura de pepino “diminui o pulgão só que também diminui a produção”, -  a utilização de plástico vermelho na plantação de rosas faz com que os botões fiquem maiores, mas cai a produção e aumenta o número de pragas”.
Porquê usar filtros de luz de cores diferentes nas plantações?
Os agricultores sabem que na produção de plantas as cores da luz incidente influenciam no crescimento, na floração e no controle de pragas. Então, a resposta não é simples e vai depender do objetivo do agricultor: se ele deseja maior produção, florescimento, controle das pragas, entre outros.
 

BIBLIOGRAFIA:

- Educ. Mat. em Revista. SBEM. Etnomatemática, Ano 1, nº 1,  2º sem/1993
- SOARES, Paulo Toledo. O mundo das Cores. Editora Moderna; 1991
- MONTANARI, Valdir e Paulo CUNHA. Nas ondas da luz. Editora Moderna.