CO45: Etnomatemática dos moradores do bairro da serra no petar- parque estadual turístico do vale ribeira, no litoral sul do Estado de São Paulo.
Ademir Donizeti Caldeira
 Denise M. Silvade Oliveira


Resumo
  Este trabalho objetivou investigar o conhecimento matemático que já foi utilizado pelos moradores do Bairro da Serra, no PETAR. Foram utilizados os pressupostos da pesquisa etnográfica e, através de entrevistas, principalmente, com as pessoas mais idosas, constatamos a existência de uma forma de entendimento matemático não mais utilizado nos meios educacionais locais. Foram pesquisados, basicamente, os métodos de utilização de medida de volume, área e comprimento. Posteriormente a pesquisa tem a finalidade de incorporar estes conhecimentos ao sistema educacional local.

Palavras chave: Etnomatemática, educação e cultura.

Introdução

As concepções da matemática estão relacionadas ao conhecimento e a busca do conhecimento está intimamente relacionada a busca da verdade, como a verdade é histórica, social, cultural e política, as concepções devem ser também vistas como algo em transformação. Portanto, se as nossas práticas estão calcadas em concepções, elas também devem ser transformadas de acordo com o tempo, com o sociocultural e com atenção voltada para o momento político. Essas concepções que devem ser temporais, sempre estarão tentando justificar a melhor maneira de se organizar, de ver, de pensar, a fim de garantir as "verdades" da Matemática, no sentido de atingir os objetivos a que essa ciência se propõe e como é que a Matemática deveria ser. No entanto o que importa é saber como a Matemática é e como deveríamos proceder para que melhorassem os processos de ensino e aprendizagem.
 Com tudo isso, procuraremos, através de uma pesquisa etnográfica nos moradores do Bairro da Serra do Alto Ribeira, mais especificamente no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira do Estado São Paulo - PETAR, levantar a etnomatemática praticada pelas pessoas que compõem aquela comunidade e relacioná-la com a matemática institucional ensinada nas escolas da região e através desta prática, mudar algumas concepções, como por exemplo, de que a Matemática consiste essencialmente em demonstrações de proposições a partir de axiomas mais ou menos arbitrários, perspectiva em que se reconhece a influência direta do formalismo. Através desta concepção a Matemática é aqui reduzida exclusivamente ao jogo de sua estrutura dedutiva. Mudar a concepção que usualmente surge associada à anterior de que a Matemática seria domínio do rigor absoluto, da perfeição total. Nesse formalismo não haveria lugar para erros, dúvidas, hesitações ou incertezas. Mudar a concepção também muito divulgada, e que se situa igualmente na linha da tradição formalista, que tende a desligar completamente a Matemática da realidade. Por conseguinte, quanto mais auto suficiente, "pura" e abstrata, melhor seria a matemática escolar.
 De acordo com Caraça (1998), “a matemática é geralmente considerada como uma ciência à parte, desligada da realidade, vivendo na penumbra do gabinete, um gabinete fechado onde não entram os ruídos do mundo exterior, nem o sol nem os clamores dos homens”. Esta forma de considerar a matemática faz com que não levemos em consideração o contexto em que ela foi construída, muito menos de como ela está sendo aprendida pelos alunos.
No entanto, sabemos da  existência inúmeras culturas e que nenhuma deve ser considerada nem melhor nem pior, e que a cultura também não pode ser hierarquizada, pode sim, ser comparada, sem destacar pontos positivos e negativos. Logicamente, algumas culturas acabam sendo impostas sobre as outras, pois acaba tendo uma relação direta com o poder e, como existem alguns países dominantes, a cultura deles acaba se tornando também dominante, como por exemplo, a língua inglesa que predomina sobre as outras línguas. Assim como todas as manifestações culturais, a matemática também pode ser imposta por um poder dominante. Da mesma maneira, acontece também em micro regiões como o caso do Bairro da Serra no PETAR. Ali existia uma matemática que não vivia na penumbra do gabinete mas, no mundo exterior, no sol e na poeira e que um dia, a utilizaram para a sua sobrevivência e que, aos poucos, foi sendo substituída por outra, com um maior poder de dominação, mas que ainda permanece na memória das pessoas daquele local.

Objetivos
Geral:


Específico:


Desenvolvimento do tema:
 O trabalho foi desenvolvido a partir de pressupostos sobre etnomatemática apresentado por D’Ambrósio (1985, 1990). Existem várias críticas em relação ao significado do prefixo etno que antes era conceituado como raça, nação e hoje, a maioria dos antropólogos, e D’Ambrósio, consideram um conceito mais ampliado, incluindo, por exemplo, memórias culturais, atos e ações que são usados por um determinado grupo cultural para que possam resolver seus problemas sociais.
Numa primeira fase, foi feito um levantamento histórico da região no sentido de detectar quais são as origens dos conceitos que posteriormente serão levantados. Este fase foi feita através de um levantamento bibliográfico dos estudos históricos já realizados da região, complementado por uma pesquisa etnográfica baseada em Ludke, 1986. Foram usadas para esta pesquisa, entrevistas abertas semi-estruturadas aos moradores da região, sobretudo os mais velhos, para que pudessemos, posteriormente, fazer os levantamentos dos conceitos etnomatemáticos e suas análises. Para esta fase, fizemos usos de gravadores, anotações escritas e fotografias.
 Numa segunda fase, foram feitas as análises. A metodologia para as análises foi por categorias de acordo com os conceitos etnomatemáticos que foram aparecendo da primeira fase. A apresentação dos resultados destas duas fases compõem o objetivo geral deste trabalho.
 Para a realização do objetivo específico (3ª fase), faremos contato com os professores(as) das escolas da região para que possamos fazer um comparação, dos resultados do objetivo geral, com os conceitos matemáticos aprendidos nas escolas. Este trabalho não pretende envolver, especificamente, os alunos. Tem a finalidade de levantar e analisar os conceitos etnomatemáticos da região e discutir estas informações com os professores(as) para que, num outro momento, estes resultados possam ser incorporados ao trabalho didático com uma metodologia específica a ser determinada posteriormente.

Conclusão
 A pesquisa mostrou-nos que existem vários conhecimentos matemáticos, mais especificamente, sobre medidas de volume, de superfície e de comprimento, que foram utilizados pelos moradores mais antigos na região e que, atualmente, já não são mais utilizados pelos moradores mais jovens. Desta maneira, a pesquisa não pretendeu comprovar que aqueles conhecimentos são específicos daquela região, mas que foram utilizados pelos moradores mais antigos e que foram substituídos por outros com o passar do tempo. Com isso podemos, no mínimo, concluir que os conhecimentos não são imutáveis, como muitas vezes é apresentado sobre os conhecimentos matemáticos, mas que dependem da cultura, do tempo e do poder que é imposto sobre ele.

Bibliografia
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