Chuva Ácida
Texto baseado no livro O Azul do Planeta: Um
Retrato da Atmosfera Terrestre, de Mário Tolentino, Romeu Rocha
Filho e Roberto Ribeiro da Silva - Ed. Moderna, São Paulo, 1995.
Uma solução contendo CO2(aq) e
HCO3(-) em equilíbrio define um pH igual a 5,6 para
a água pluvial. Este é considerado o pH limite, abaixo do qual se
qualifica uma chuva como sendo "ácida". Aqui não estão
sendo levados em conta outros componentes químicos estranhos a
composição normal do ar atmosférico, que também determinam
condições de chuva ácida, tais como óxidos de enxofre e de
nitrogênio. Para um melhor entendimento do conceito de pH, observe o quadro
seguinte.
Índice pH O índice pH mede a acidez ou a
basicidade alcalinidade uma solução aquosa, normalmente variando entre
os limites de 0 a 14. O valor "0" eqüivale a uma forte acidez e
o "14" a uma forte basicidade. Se a solução não for nem
ácida nem básica, o seu pH será igual a 7. A acidez aumenta a partir
do pH 7 (excluindo este para valores mais baixos e a basicidade
aumenta no sentido dos valores acima do pH 7. O fato de a chuva ser ácida traz
certos efeitos, por exemplo, a erosão química de monumentos. Normalmente
qualquer material exposto ao ambiente e sob a ação de chuvas, ventos,
organismos vivos etc. sofre uma degradação denominada
"intemperismo". Na construção de edifícios, pisos,
monumentos, estátuas etc., utilizam-se rochas, tais como os calcários e
os mármores , que tem como componente quimico principal o carbonato de
cálcio (CaCO3), em geral sob a forma cristalina de um mineral
chamado "calcita". Quando sujeito a ação das chuvas, esse
material se desagrega, ocasionando a destruição ou danificação de
fachadas de prédios, degraus de escadarias e pisos, além da perda do
valor estético de monumentos, estátuas e similares. O processo de ataque
da chuva ácida deriva da reação química entre o carbonato de
cálcio e o ácido carbônico, levando a formação de
bicarbonato de cálcio (Ca(HCO3)2) que é solúvel
na água, ao passo que o carbonato não o é. Outro efeito das chuvas normalmente ácidas é a
formação de cavernas. Em certas regiões, o sub-solo compõe-se de
rochas calcárias, podendo ocorrer infiltrações da água das chuvas,
que penetra nos corpos rochosos, causando a sua dissolução na forma de
bicarbonato de cálcio. Ao se introduzir por juntas e poros dessas rochas,
a água vai alargando os vazios, abrindo canais e, às vezes, cavando
grandes espaços ocos (cavernas). Tais cavernas apresentam sob a forma de
corredores e salões subterrâneos, alguns de grande extensão. No caso
de o teto dessas cavernas desabar, há o afundamento do terreno sobrejacente
e a formação de depressões afuniladas que são chamadas
"dolinas". Eventualmente as depressões acumulam água, dando
origem a lagoas mais ou menos circulares. Já os desabamentos em áreas
habitadas provocam a destruição de edificios e vias públicas, como
já aconteceu, na década de 80, em cidade da Grande São Paulo.
Nas cavernas calcárias, ocorre a infiltração
das águas superficiais ou de lençóis de água subterrânea,
carregadas de bicarbonato de cálcio, que afloram no teto, de onde gotejam.
Tais gotas, ao serem expostas ao ar, perdem o gás carbônico dissolvido;
assim, o bicarbonato de cálcio volta a forma de carbonato, que por ser
insolúvel, precipita-se, formando cristais de calcita. No decorrer dos
tempos, esses cristais fundem-se em grandes massas pendentes do teto das
cavernas; trata-se das estalactitas, que assumem as mais variadas formas
(colunas, cortinas, tubas de orgão, figuras de animais etc.). Por
processo semelhante, as gotas de água carregadas de bicarbonato que caem no
solo formam as estalagmitas. São essas formações que dão
extraordináriaria beleza às grutas calcárias, transformando-as em
atrações turísticas. Em condições especiais, os cristais de
calcita precipitam-se dentro de poças d'água, originando espetaculares
estruturas globulares chamadas "pérolas das cavernas". As
águas de infiltração que geram as cavernas calcárias podem ser
drenadas por cursos d'água subterrâneos, que eventualmente afloram nas
proximidades dessas formações geológicas. É de se esperar que o
interior das cavernas contenha ar com um alto teor de gás carbônico,
que se acumula nas partes baixas (o CO2 é mais denso que o ar),
especialmente junto ao solo. Esse fato representa um perigo para os
exploradores de cavernas e, em alguns casos, chega a impedir a entrada de
pequenos animais, que são sufocados por estarem com as narinas
mergulhadas no gás carbônico acumulado próximo ao solo. Um exemplo
desse tipo de fenômeno da Gruta do Cão, localizada na Itália.
Há cavernas calcárias em muitas
regiões do Brasil, sendo mais famosas as da região da Lagoa Santa, em
Minas Gerais: Lapinha, Maquiné, Lapa Nova, Lapa Vermelha e São João
del Rei (a Lagoa Santa, por sua vez, que tem forma circular, resultou do
desabamento do teto de uma caverna, formando uma dolina que for preenchida
por águas subterrâneas). Também bastante conhecidas, as
formações do Vale do Ribeira de lguape, em São Paulo, constituem o
maior conjunto de cavernas calcárias no pais; entre elas destaca-se a
Caverna do Diabo, ponto turístico da região. Existem cavernas deste tipo em outras regiões do Brasil, como a que abriga o Santuário
do Bom Jesus da Lapa, na Bahia, e as do vale do Rio Salitre, no estado do
Ceará. No âmbito mundial, as mais famosas são as enormes Cavernas de
Carlsbad, localizadas no sudoeste do estado do Novo México, nos Estados
Unidos.
Figura extraída do livro Planeta Azul
Figura extraída do livro Planeta Azul
Figura extraída do livro Planeta
Azul