São Paulo, uma das dez cidades mais poluídas do mundo, enfrenta a partir de amanhã, pelo quarto ano consecutivo, a Operação Rodízio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente - uma medida que visa a reduzir a emissão de monóxido de carbono na atmosfera. De segunda a sexta-feira, das 7 às 20 horas, 20% da frota da cidade não poderá circular. Motoristas que desrespeitarem o rodízio terão de pagar multa de R$100,00, que dobra em caso de reincidência. A medida vale também para as cidades de Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Osasco, Guarulhos, Ferraz de Vasconcelos, Mauá e Taboão da Serra. Serão quase cinco meses de restrição, até 25 de setembro. Apesar dos transtornos que uma medida como essa provoca na rotina dos moradores, a maior parte da população, 78%, continua apoiando o rodízio, como mostra pesquisa realizada pelo InformEstado. Nem todos, no entanto, conseguem perceber a importância da medida para a qualidade do ar da cidade. Nesse ponto, os paulistanos estão divididos. Enquanto, 45% apóiam o rodízio por causa dos seus efeitos ambientais, outros 44% acreditam no programa apenas como um instrumento para controlar os congestionamentos cada vez maiores. A falta de transportes coletivos de qualidade continua sendo o principal argumento dos 22% que são contrários à medida. "Ônibus é um incômodo", diz a modelo Karla Ometto. Só com trabalho garantido, ela pretende sair de casa às segundas-feiras, quando não pode circular com seu carro. Caso contrário, vai ficar assistindo à televisão ou brincando com o cachorro. Usar táxi está fora dos planos: "É muito caro". Ainda que boa parte da população não acredite no rodízio como um programa de saúde pública, especialistas e autoridades estão convencidos de que a medida se tornou imprescindível. O excesso do uso de veículos tem causado em São Paulo efeitos dramáticos. Uma em cada nove mortes de fetos ocorrida na cidade resulta dos efeitos da poluição, de acordo com estudos do Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Por causa da poluição atmosférica, que é composta em 90% pelo monóxido de carbono emitido pelos carros, o Munícipio gasta com a saúde de seus cidadãos mais de US$ 3 milhões por ano. O cálculo é da economista Tatiana Schor, mestranda da Faculdade de Economia de Administração da USP. Apesar de todos os problemas causados pela imensa frota que circula em grandes cidades, restringir a circulação não é tarefa fácil. Grande vilão das questões ambientais, o automóvel é, por outro lado, um dos principais pilares da economia brasileira. A indústria automobilística nacional responde atualmente por quase 15% do Produto Interno Bruto industrial, com um faturamento anual que chega próximo dos US$ 30 bilhões. O Brasil é hoje o 7º colocado no ranking mundial de fabricantes de veículos. As montadoras instaladas no País empregam quase 120 mil trabalhadores. Isso sem falar no efeito "cascata" desse setor, que garante milhares de empregos em concessionárias, oficinas, reparadoras em geral e tantas outras empresas. Alternativa - Políticas de incentivo à troca de carros antigos por carros novos - aliadas a investimentos em transportes públicos - são apontadas como as melhores opções para o impasse. O próprio rodízio é classificado pelos especialistas como uma medida paliativa. "O rodízio pode dar resultados durante uns cinco anos", afirma o diretor de Qualidade do Ar da Companhia de Tecnologia em Saneamento Ambiental (Cetesb), Cláudio Alonso. "Depois disso a compra de um segundo carro mais velho para driblar o rodízio começa a ser muito mais comum." E aí o que era uma medida antipoluente começa a dar resultado contrário. Um carro com dez anos de uso polui 40 vezes mais do que um modelo novo. Carros produzidos em 1997 emitem, em média, 1 grama de monóxido de carbono por quilômetro rodado. De acordo com a Cetesb, a média de emissão de poluentes da frota de São Paulo é de 17 gramas por quilômetro rodado. Para a pesquisa, o InformEstado entrevistou 600 moradores da cidade de São Paulo, com idades entre 18 e 64 anos, nos dias 29 e 30. |
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