SIMONE BIEHLER MATEOS
Uma entre cada nove mortes de fetos ocorridas na cidade de São Paulo
é resultado dos efeitos da poluição. Além disso,
só um tipo de poluente (os óxidos de nitrogênio) é
responsável, a cada ano, pela morte de cerca de 300 crianças
da capital. Esses são alguns dos resultados dos estudos epidemiológicos
realizados pelos pesquisadores do Laboratório de Poluição
Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (USP). No ranking mundial, segundo os pesquisadores, São Paulo
está entre as dez cidades mais poluídas, apresentando, de
acordo com a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb),
uma atmosfera com qualidade fora de padrão durante cerca de 140
dias do ano. Os veículos motorizados respondem hoje por 90% dessa
poluição. As conclusões do grupo da USP que estuda
os efeitos dessa poluição sobre a saúde partem da
análise das estatísticas do Programa de Aprimoramento de
Informações de Mortalidade (Proaim) da Prefeitura. "Comparamos,
durante dois anos, o número de mortes fetais ocorridas em dias de
ar limpo com as registradas nos dias de maior poluição",
explica Paulo Saldiva. "Usamos um modelo matemático para separar
a influência de outras variáveis que interferem na mortalidade
fetal - como temperatura e umidade do ar - e concluímos que os riscos
de o feto nascer morto são mais de 10% maiores nos dias poluídos,
o que autoriza relacionar essas mortes com a poluição", explica.
A mesma metodologia foi usada para concluir que as altas concentrações
de óxido de nitrogênio (NOx) respondem pela morte de cerca
de 300 crianças por ano na capital. "Nós simplesmente cruzamos
os dados da Cetesb, que controla a poluição do ar, com os
dados do Proaim, procurando isolar as outras variáveis", diz Saldiva.
Os grandes vilões da saúde na atmosfera paulistana, segundo
Saldiva, são o material particulado, proveniente principalmente
da fumaça preta dos caminhões, e o ozônio, poluente
que resulta da reação química que ocorre entre óxidos
de nitrogênio e hidrocarbonetos sob ação da luz solar.
"Em São Paulo, esses são os poluentes mais associados aos
problemas de saúde."
Mutações - O ozônio, principal componente da névoa seca, destrói as membranas celulares das vias aéreas, enquanto as partículas inaláveis irritam as mucosas. Há indícios, ainda, de que algumas dessas partículas tenham efeitos cancerígenos e relações com as mutações genéticas. O muco existe justamente para filtrar a poeira. As partículas ficam coladas nessa proteção viscosa, sendo depois "varridas" pelo movimento dos cílios que cobrem toda a mucosa. "O problema é que, quando a poeira é demais ou quando vem associada a baixas temperaturas, o muco endurece, bloqueia o movimento dos cílios, inflamando a mucosa e favorecendo todo tipo de infecções respiratórias", explica Saldiva. A asma, por exemplo, é a resposta dos organismos mais sensíveis às substâncias irritantes. Cerca de 5% da população adulta e 10% das crianças sofrem de asma ou outra hipersensibilidade respiratória aos poluentes. Por isso mesmo, Saldiva acredita que não existam níveis toleráveis de poluição. "Sempre vai existir um grupo de pessoas suscetíveis, mesmo que os níveis de poluentes estejam dentro dos padrões aceitos pela Organização Mundial de Saúde (OMS)." Inversão térmica - A cidade registra entre 50 e 60 inversões térmicas por ano. Esse fenômeno atmosférico dificulta a dispersão de poluentes. Depois de cada inversão, os hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) registram um aumento das internações da ordem de 25% a 30%. Ocorre também um incremento da mortalidade de idosos (maiores de 65 anos) e crianças (menores de 13) de cerca de 15%. "As pessoas mais sensíveis sofrem mais." Mas não são as únicas. Embora de forma menos evidente, as pessoas que não sofrem de doenças respiratórias também se ressentem da poluição. Altos níveis de monóxido de carbono, como os registrados com freqüência em São Paulo durante o inverno, aumentam a carboxihemoglobina no sangue. A substância agrava problemas cardiovasculares e afeta o sistema nervoso central, provocando falhas de percepção, reflexos retardados e sonolência. Já o dióxido de nitrogênio na corrente sangüínea
pode causar grave anemia. Um estudo da Escola de Saúde Pública
da Faculdade de Medicina de Harvard demonstrou também que a poluição
reduz a expectativa de vida. O trabalho acompanhou, durante 16 anos, um
grupo de 8 mil pessoas com idades entre 45 e 50 anos, em várias
cidades norte-americanas, para determinar as principais causas de morte.
O estudo constatou que os habitantes de cidades poluídas vivem,
em média, 2,5 anos menos do que os moradores de cidades com ar limpo.
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