O CICLO DO CARBONO E VOCÊ
POPULAÇÃO JÁ INCORPOROU PROGRAMA, DIZ SECRETÁRIA

Stela Goldenstein acredita que as pessoas já estejam habituadas ao rodízio
IVANA MOREIRA
Com três anos de experiência em programas de restrição à circulação de veículos, a população de São Paulo já está habituada a esse exercício de cidadania. Pelo menos, é nisso que a secretária de Meio Ambiente, Stela Goldenstein, acredita. Ela considera que as pessoas já entendem a importância do programa como instrumento de controle da qualidade do ar. "O rodízio já foi incorporado pela população", declarou Stela, em entrevista ao Estado. Estado - O que mudou no programa deste ano em relação aos anteriores. Que erros estão sendo corrigidos? Stela Goldenstein - Acabamos com o rodízio do rodízio. Ele não foi um erro, mas acatamos a vontade da maioria. Aprimoramos o cadastramento das exceções para sermos mais justos. Agora, o motorista infrator vai receber a comunicação da autuação juntamente com o boleto para pagar no banco. Ninguém vai ter de ir ao Detran. Estado - Especialistas dizem que cortar 20% da frota não é o suficiente para melhorar a qualidade do ar. A senhora concorda? Stela - Não dá para dizer qual é o porcentual ideal, porque o ideal é não ter poluição. Com 20%, tenho uma redução significativa e suportável, numa cidade em que o transporte coletivo ainda não é o suficiente. Esse balanço entre o quanto posso reduzir de carros e o quanto as pessoas podem incorporar ao seu cotidiano é uma decisão difícil. Não é simplesmente uma decisão de qualidade do ar. Estado - O rodízio investe contra o monóxido de carbono e não resolve sozinho o problema da poluição. O que está sendo feito para controlar os outros poluentes? Stela - O monóxido de carbono não é o único poluente, mas é fundamental, porque os problemas de saúde ligados a ele são os mais preocupantes. Estamos fazendo um monitoramento inédito de ozônio, um poluente que se forma com a luz do sol. Quanto à fumaça de caminhões, estamos fazendo uma grande fiscalização e multando muito. Estamos interagindo com donos de grandes frotas, como a Coca-Cola, para que eles mesmos façam sua inspeção, seguindo o nosso treinamento técnico. Estado - Este será o rodízio mais longo, com quase cinco meses de duração. O índice de obediência pode cair? Stela - Não acho, espero até que aumente. A adesão fortíssima de mais de 95% no último ano é uma indicação clara que a população sente como graves os problemas de poluição. A população não adere só porque tem multa. Ela está envolvida nesse projeto de cidadania. As pessoas criaram mecanismos para adaptar a medida às suas rotinas. O rodízio já foi incorporado pela população. Estado - Em todas as experiências anteriores, a população apoiou o programa pelos seus reflexos no trânsito e não por seus efeitos na qualidade do ar. Stela - Quando está parado no farol, o motorista não pensa no problema de saúde. Pensa no congestionamento que o irrita. Mas são comuns casos de asma, bronquite ou de gripes permanentes. É com isso que estamos preocupados. Estado - Sem os marronzinhos a fiscalização complica? Stela - Não. Vão estar trabalhando fiscais de secretarias municipais, a equipe da Cetesb e do Comando Metropolitano de Trânsito. Teremos 1,3 mil fiscais. Estado - E isso não prejudica o andamento de outros trabalhos da secretaria? Stela - Não. Uma parte dessa equipe é gente contratada especificamente para esse período. Isso permite que todas as atividades da secretaria continuem. Estado - O trabalho sobre o programa de inspeção veicular do Estado está parado? Stela - Nós estamos em plena discussão da regulamentação do Código de Trânsito Brasileiro. Surgiram muitas dúvidas sobre a competência do Estado e das prefeituras. Vamos aguardar a regulamentação. Estado - Quando a inspeção veicular for uma realidade, o rodízio terminará? Stela - Não. Isso por causa do volume de carros. Estado - A secretaria está trabalhando num projeto muito ambicioso, de transporte sustentável, prevendo reescalonamento de horários para entidades públicas e privadas, além de medidas para evitar congestionamentos. A senhora acredita que esse projeto pode ser colocado em prática em São Paulo? Stela - O administrador público tem a obrigação de ser audacioso ao propor medidas abrangentes, globalizantes, que levem à reversão dos rumos estabelecidos e nos estão levando a desastres. Caso contrário, quem sofre é a população. É o que aconteceu com o rodízio. O projeto de transporte sustentável é audacioso mesmo. Mas essas medidas são necessárias. Acho que a população está madura para incorporar medidas radicais para melhorar a vida nas cidades. Estado - A Cetesb já foi acusada de trabalhar com equipamentos obsoletos. O que tem sido feito a esse respeito? Os recursos das multas dos rodízios anteriores têm sido usados para isso? Stela - Estamos investindo em monitoramento da qualidade do ar, ampliando a rede e laboratórios. O decreto do rodízio prevê que boa parte dos recursos das multas seja usada para isso. Trabalhamos também no desenvolvimento de um novo modelo para medir a qualidade do ar na cidade. Estado - Nos outros anos, o ex-secretário, o deputado Fábio Feldmann, fez panfletagem do rodízio e foi acusado de usar a medida politicamente. A senhora abriu o programa deste ano, na segunda-feira, fazendo a mesma coisa. 

Não teme ser alvo da mesma acusação? Stela - Estamos mexendo com a cultura, com o comportamento, com o cotidiano das pessoas. O único instrumento para fazer isso é a comunicação. É por isso que vou às ruas também, pedir que as pessoas assumam suas obrigações. 
 



 
L@PEQ - FEUSP 
Atividade CC-5: O Ciclo do Carbono e Você