PROJETO DE PESQUISA: A FORMAÇÃO DE PROFESSORES E O PARADIGMA PEDAGÓGICO DA INFORMÁTICA EDUCATIVA

        Este projeto de pesquisa visa verificar, na formação de professores do ensino fundamental e médio, como a introdução da informática na educação traz modificações para os fundamentos pedagógicos e se, diante da vivência da crise da modernidade e o surgimento de novos modelos interpretativos da realidade, a informática pode ser considerada como a nova linguagem que irá superar tal problemática elaborando uma nova forma de acesso ao conhecimento.

        A perspectiva que proponho vai verificar a prática de formação de professores pertinente às diferentes redes de ensino para identificar as concepções quanto à introdução e uso da informática na educação, os métodos utilizados, programas adotados, metodologia de ensino.

        É fácil observar o crescente número de cursos de informática que a cada dia invadem as cidades, ofertando novas formas de sua aprendizagem. Dentre estes também estão aqueles que se dispõem a trabalhar diretamente com a informática como instrumento pedagógico, estabelecendo convênios com escolas a fim de introduzir a informática no ensino fundamental.

        Apesar de aparentemente ofertarem a mesma coisa, percebemos que a disputa crescente tem forçado o surgimento de novas formas e mecanismos para a introdução da informática nas práticas escolares. Segundo Mercado (1997), esta introdução se dá de forma descontextualizada em relação à proposta pedagógica das escolas da rede privada, sem favorecer que os alunos construam seu conhecimento.

        Do lado da rede pública de ensino, a situação ganha contornos próprios na medida em que entram em jogo outras variáveis como a definição de uma política específica para esta área, a disponibilização de recursos para obtenção de maquinário e softwares, além da preparação dos professores para lidar com as novas ferramentas, etc.

        O Programa PROINFO – enquanto instrumento da política federal para a informática na educação – pretende atingir um grande número de escolas públicas com a compra de 100 mil microcomputadores. Dentro deste programa, grande espaço é ocupado para a formação dos profissionais que atuarão diretamente nos NTEs (Núcleos de Tecnologia Educacional) e nos Laboratórios dentro das escolas. Apesar de não haver uma determinação prévia quanto ao modelo de formação destes professores, o que se observa é a tendência em realizar cursos de pós graduação a nível de especialização, ligado às diversas Universidades. Ainda não existe uma avaliação sistemática deste processo, mas pode-se dizer que não há grande variedade nos modelos e programa adotados.

        Segundo Valente e Almeida (1997), os cursos de especialização têm estrutura “rígida e arcaica”, pois se fundamentam na lógica da obtenção de conhecimentos para o uso dos computadores, além de serem feitos de forma descontextualizada. Para estes autores, é necessário criar novas formas de se realizar a formação dos professores e não somente reeditar as experiências já vivenciadas.

        Torna-se, portanto, necessário apreender a prática levada a efeito pelas redes de ensino quanto à formação docente na medida em que um paradigma não se constitui à revelia daqueles que vivenciam a questão no seu cotidiano. Ao contrário, como lembra Oliveira (1997), um dos grandes entraves da implantação da informática educativa está na quase total ausência dos professores na sua elaboração.

        Apropriando-me do termo utilizado por Valente (1993), creio que a constituição da informática como efetivamente catalisadora da mudança em busca de um novo paradigma pedagógico, não poderá se dar sem que seus agentes participem de forma ativa neste processo.
Este projeto trabalha, então, com o pressuposto de que nos modelos de formação de professores que atualmente estão sendo adotados a informática é apresentada como paradigma, sendo então a possibilidade de superação da crise na educação. A informática na educação, através da formação continuada dos professores, provocaria mudanças nas concepções e valores sobre a prática pedagógica, no sentido de sintonizá-la com as mudanças que o uso das novas tecnologias tem provocado nas relações sociais. Outra hipótese decorrente do que foi colocado acima é que isso advém da ausência ou da pouca preocupação com a reflexão sobre a relação informática, educação e sociedade, permitindo uma apreensão superficial ou até ingênua por parte dos professores do ensino fundamental e médio sobre o seu uso, provocando um determinado modo de implantação da informática na educação.

        Como conseqüência deste modo de apresentação, percebo que a introdução da informática nas redes de ensino opera a partir de uma superposição de ações, em especial no tocante à formação de professores, ficando então sob a responsabilidade de seus executores a destinação desta mesma formação, ou seja, a capacidade de promover ou não mudanças significativas no processo de ensino aprendizagem.

        Para realizar este projeto de pesquisa, o campo de ação serão diferentes modelos de formação de professores do ensino fundamental e médio em informática educativa.

OBJETIVOS

Geral:
Analisar nas diferentes práticas de formação de professores a introdução da informática educativa enquanto possibilidade de superação da crise da educação.

Específicos:
- entender a relação informática e educação na formação de professores para trabalharem com as novas tecnologias da informação e comunicação;
- analisar se a introdução da informática educativa na formação de professores se constitui em mudança nos fundamentos pedagógicos;
- verificar como os professores interpretam a introdução da informática na educação;
 

BIBLIOGRAFIA INICIAL

ALMEIDA, Fernando José de. Educação e Informática. Os computadores na escola. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1987.
ANDRADE, Pedro Ferreira de (org.). Projeto Educom: Realizações e Produtos. Brasília: MEC/OEA, 1993.
APPLE, Michael W. O computador na educação: parte da solução ou parte do problema? Revista Educação e Sociedade, nº 23. São Paulo: Cortez,1986.
BORGES NETO, Hermínio. A informática na escola e o professor. In Anais do IX ENDIPE. São Paulo, 1998.
BRANDÃO, Zaia (org) A crise dos paradigmas e a educação. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1995.
CROCHÍK, José Leon. O ajustamento do pensamento em uma sociedade de alto desenvolvimento tecnológico: o computador no ensino Tese de doutorado. São Paulo: USP, 1990.
CYSNEIROS, Paulo Gileno. A assimilação dos computadores pela escola. Mimeo, 1997.
_______________________. Informática e Educação em um país de Terceiro Mundo. Revista Tópicos Educacionais, vol. 8 nº 2. Recife, 1990.
GARCIA, Pedro Benjamim. Paradigmas em crise e a Educação. In BRANDÃO, Zaia (org) A crise dos paradigmas e a educação. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1995.
GATTI, Bernadete A. Os agentes escolares e o computador no ensino. In Revista Acesso, dez/93.
KAWAMURA, Lili. Novas tecnologias e Educação. São Paulo: Ática, 1990.
LEVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da Informática. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.
LYOTARD, Jean-François. O pós-moderno. 3ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1988.
MEC/SEED. Programa Nacional de Informática na Educação. 1996.
MERCADO, Luis Paulo Leopoldo et. Al. Utilização da Informática Educativa nas Escolas Privadas de Maceió. In 49ª Reunião Anual da SBPC, UFMG, 1997.
MORAES, Maria Cândida. O paradigma Educacional Emergente. São Paulo: Papirus, 1997.
_______________________. Informática Educativa no Brasil: uma história vivida, algumas lições aprendidas. In Revista Brasileira de informática na Educação – nº 1 Florianópolis, Sociedade Brasileira de Computação, 1997.
OLIVEIRA, Maria Rita N. S. Tecnologia interativas e Educação. In Anais do IX ENDIPE. São Paulo, 1998.
OLIVEIRA, Ramon. Informática Educativa. São Paulo: Papirus, 1997.
OLIVEIRA, Vera Barros (org). Informática em Psicopedagogia. São Paulo: Ed. SENAC, 1996.
RIPPER, Afira Vianna. O preparo do professor para as novas tecnologias. In OLIVEIRA, Vera Barros (org). Informática em Psicopedagogia. São Paulo: Ed. SENAC, 1996.
SANTOS, Lucíola L. C. P. A Formação do professor e Pedagogia Crítica. In FAZENDA, Ivani (org). A Pesquisa em Educação e as transformações do conhecimento. 2ª ed. São Paulo: Papirus, 1997.
TAPIA, Jorge Rubem Biton. A trajetória da política de informática brasileira (1977-1991): autores, instituições e estratégias. Campinas, SP: Papirus: Editora Universidade de Campinas, 1995.
VALENTE, José Armando. Computadores e conhecimento: repensando a educação. Campinas: UNICAMP, 1993.
VALENTE, José Armando e ALMEIDA, Fernando José de. Visão analítica da Informática na Educação no Brasil; a questão da formação do professor. In Revista Brasileira de informática na Educação – nº 1 Florianópolis, Sociedade Brasileira de Computação, 1997.
WEISS, Alba Maira Lemme. A informática e os problemas escolares de aprendizagem. Rio de Janeiro: DP&A ed., 1998.


Retorna