Origem
O Piá nasceu do aprofundamento de estudos sobre o projeto de Parques Infantis, desenvolvido mais intensamente a partir de 1935, época em que Mário de Andrade foi diretor do Departamento de Cultura de São Paulo. Num primeiro contato, a proposta parecia se aproximar bastante do que estávamos pensando para o Piá, um espaço público onde crianças de diferentes idades participavam de atividades culturais e ainda podiam consagrar um tempo para as brincadeiras. Contudo, quanto mais nos aprofundávamos nos estudos, mais os Parques iam adquirindo outra forma e, por trás daquelas atividades de cunho cultural, a marca do controle das crianças pobres sob os olhos do Estado se fez notar com mais força.
Estes estudos nos fizeram perguntar mais profundamente sobre a dimensão política de nosso projeto, sobre sua finalidade: afinal para quê estávamos ali? Havíamos aprendido através da experiência dos Parques que o trabalho com a cultura, por si só, não impedia que a educação estivesse plena de elementos regressivos. Principalmente considerando que, em nossa época, a cultura assumiu o caráter de mercadoria, se dissociando cada vez mais da idéia de uma produção humana.
Assim, passamos a conceber o Piá como um Espaço de Educação Informal. Embora esta denominação fosse bem abrangente e também não satisfizesse plenamente ao coletivo de educadoras/es, ela se aproximava bastante da nossa prática, pois enunciava a possibilidade da educação fora da escola, menos institucionalizada e mais vinculada a uma intervenção política em direção a uma transformação social.
Desde 2003, a partir de novas discussões e demandas da comunidade, o Piá configura-se em 3 espaços: Espaço de Educação Infantil , Espaço de Educação Extra-escolar e Espaço de Formação em Educação.
Percurso
Por meio de uma parceria com a Secretaria Estadual de Cultura do estado de São Paulo, o Piá entrou em funcionamento em fins de 1997, na casa em que viveu Mário de Andrade, no bairro da Barra Funda. Para tanto, fizemos parte de um importante processo de (re)ocupação e (re)significação deste espaço público: a Casa de Mário de Andrade. Desativada há 4 anos, a Casa foi completamente restaurada e suas atividades, com crianças, adolescentes e adultos, foram retomadas em forma de oficinas culturais.
Em 1999, buscamos nova sede, pois o pequeno espaço de atendimento dificultava a realização de atividades e não mais comportava o número crescente de crianças. Além disso, os adolescentes passaram a freqüentar as oficinas regularmente, o que nos fez repensar o caráter do projeto e elaborar uma proposta pedagógica de cunho permanente, passando do formato de oficinas culturais para o trabalho a partir de um tema gerador (eixo temático) que problematizasse questões da realidade daqueles jovens, como questões de imigração, tipos de moradia etc.
Uma nova parceria, desta vez com a Secretaria Municipal de Esportes, possibilitou nossa transferência para o Centro Esportivo e Educacional “Raul Tabajara”, o que garantiu a permanência do projeto no bairro - mantendo o vínculo já estabelecido com a comunidade do entorno. Este clube municipal havia sido abandonado tanto pelo poder público, quanto pela comunidade e após reformas estruturais se tornou referência de lazer, cultura, esporte e educação do bairro.
Nesta nova sede o Piá, pensado prioritariamente para crianças a partir de 7 anos, que integravam o Espaço de Educação Extra-escolar, passa por uma nova reformulação. Assim, a partir de 2003, além do trabalho junto aos adolescentes, iniciam-se as atividades do Espaço de Educação Infantil, devido à demanda da comunidade por espaços públicos de educação infantil e ao desejo e acúmulo de discussões do Coletivo Piá acerca da importância da educação para a primeira infância.
Em 2005 ampliamos nosso Espaço de Formação em Educação uma vez que, além de estudantes universitários oriundos da pedagogia e da licenciatura que buscam uma vivência para além da educação formal, garantimos um espaço de estágio e, consequentemente, uma experiência formativa em educação também para mães de crianças do Piá e para a dolescentes em medida sócio-educativa de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC).
|