Público Alvo
As crianças do Piá
O Piá é um espaço de educação de caráter público, portanto qualquer criança pode participar de nossas atividades, obedecendo apenas à idade mínima para o ingresso (2 anos) e à quantidade de vagas disponível. Desde 2003, atendemos diária e gratuitamente, 45 crianças, sendo 30 crianças entre 2 e 6 anos, em período integral, no Espaço de Educação Infantil; e 15 crianças a partir de 6 anos, em período complementar ao da escola, no Espaço de Educação Extra-escolar. (LINKS para página com texto sobre os espaços do Piá)
O Espaço de Educação do Piá atende crianças oriundas principalmente de cortiços e favelas da região central da cidade de São Paulo e do Projeto.Oficina.Boracea. No caso do Boracea firmamos uma parceria que prevê que as crianças a partir de 2 anos têm suas matrículas garantidas no Piá independentemente do número de vagas disponíveis.
O Bairro
O Piá é desenvolvido na Barra Funda e está, portanto, localizado na região central da metrópole São Paulo, cujas características retratam uma variedade de problemáticas sociais cada vez mais marcadas pelas contradições do desenvolvimento urbano. Segundo pesquisa realizada pelo Centro de Estudos da Metrópole (CEM) em parceria com a Secretaria de Assistência Social do Município, se antes o fluxo da pobreza percorria um trajeto periferia-centro, atualmente vivemos um processo de disseminação da desigualdade e segregação social por diversas regiões da cidade.
Na região central de São Paulo está concentrado o maior número de ocupações e cortiços da cidade - localizados basicamente em imóveis degradados, como antigos galpões industriais abandonados após a crise do setor industrial, ou em casarões que permaneceram sem locatários, e, assim, tornaram-se habitações coletivas - onde milhares de moradores (sobre) vivem em péssimas condições de vida (Centro de Estudos da Metrópole, 2003).
A Barra Funda possui cerca de 400 cortiços, que abrigam famílias vindas de todas as partes do país e cada vez mais, latino-americanos vindos principalmente da Bolívia. Possui ainda, entre os enormes galpões e armazéns, que outrora serviam à imponente Estrada Sorocabana, um casario de classe média baixa e três favelas: a favela da Aldeinha, a do Gato – hoje transformada em conjunto habitacional da prefeitura - e a do Moinho, que ocupa, dramaticamente, uma parte da Sorocabana e se ergueu ao lado dos trilhos. Como em outros bairros da região, as condições de habitação precárias dos albergues, cortiços e outras moradias coletivas instaladas na Barra Funda, aumentam a disseminação de doenças e agravam os problemas de saúde, sendo dos distritos centrais, as maiores taxas de incidência de diversas doenças – desnutrição, doenças respiratórias e infecto-contagiosas.
Além disso, não podemos deixar de descartar o fato de a Barra Funda ser percurso de muitos moradores de rua. Praças e vãos de avenidas se transformaram nos últimos tempos em alternativa de moradia para esta população. Tal fato fez com que a Secretaria de Assistência Social implementasse no bairro, no ano de 2003, um projeto piloto de abrigo, o Projeto.Oficina.Boracea.
Somada à desigualdade residencial, são crescentes os índices de segregação e distinção do acesso aos serviços públicos nesta região, como educação, alimentação e saúde, cultura e lazer, privando de direitos e agravando as condições de vida desta população. Além disso, ficam ainda mais afetadas as possibilidades de contato e interação entre diferentes grupos sociais, dificultando – e, no limite, impedindo – a geração de comunidades plurais e socialmente integradas (Busso, 2001).
As Escolas Municipais de Educação Infantil e as Creches da região não atendem a demanda das crianças do bairro e arredores, ferindo o direito à educação das crianças na primeira infância e dificultando o exercício profissional de suas famílias. Em relação ao Ensino Fundamental, a pesquisa realizada pelo CEM indica que os altos índices de atraso e fracasso escolar, antes concentrado nas periferias, co-existe nas regiões centrais, evidenciando as dificuldades do Sistema Público de Ensino em garantir o acesso, permanência na escola e uma educação de qualidade para as crianças e jovens.
Destaca-se, também, a escassez de espaços e programas públicos destinados ao lazer e a promoção da cultura – tão importantes na constituição da identidade e formação das crianças e jovens. Há uma falta generalizada de serviços públicos voltados à população de 0 a 19 anos, que tende a crescer muito. Os poucos programas existentes costumam se caracterizar, em geral, somente como reforço escolar, sem se preocuparem em promover experiências alternativas de formação e socialização. Apesar de a região central ser privilegiada no que se refere ao número de patrimônios histórico-culturais (teatros, museus, etc.) é sabido que, desde longa data, o acesso a estes espaços é restrito a uma determinada classe da população, já que foram criadas e são ainda reforçadas barreiras objetivas e subjetivas em nossa sociedade que dificultam ou até expulsam a população pobre destes estabelecimentos, mesmo que vivam geograficamente perto deles.
Na Barra Funda, grandes e movimentadas avenidas tomaram o lugar das ruas, outrora consagradas como importante espaço para a socialização, e a precariedade dos parques e praças compromete os espaços destinados ao lazer público. Agravando ainda mais este cenário, o bairro convive com um quadro crítico de violência relacionada principalmente ao tráfico de drogas e aos elevados índices de consumo de álcool e substâncias que causam dependência, o que expõe ainda mais as crianças, jovens e famílias ao risco e violência social.
Nos últimos anos, houve um aumento do índice de criminalidade juvenil bem como aumento do número de adolescentes internos na Febem ou cumprindo medida sócio-educativa prestando serviços à comunidade, moradores das imediações da região. Segundo a Coordenadoria de Assistência Social da Subprefeitura da Sé do Município de São Paulo, é urgente a implementação de novos programas destinados à formação e (re)socialização destes adolescentes em espaços públicos dos bairros centrais.
No intuito de intervir neste contexto marcado por tantas contradições e pelo alto índice de vulnerabilidade social, o Piá atua diretamente com as crianças e famílias oriundas, principalmente, dos cortiços e favelas da região e do Projeto.Oficina.Boracea. É objetivo do projeto a articulação com diversos representantes de associações civis e equipamentos públicos a fim de viabilizar conjuntamente mudanças neste cenário social.
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