Antes de tudo, vale mencionar que falar de Ubiratan D´Ambrosio ao mesmo tempo em que é uma tarefa extremamente fácil, em certos aspectos ocorre exatamente o contrário e torna-se uma tarefa das mais difíceis. Explico: fácil porque, resumidamente, posso afirmar que ele perdeu já a sua qualidade de brasileiro para tornar-se um Ser/Cidadão do planeta Terra. É assim que o vejo: como um cidadão internacional.

Ubiratan, ou simplesmente Ubi como é costumeiramente chamado nas rodas de amigos, é um Ser que em suas peregrinações por esse mundo afora se construiu exatamente permitindo que o outro, o diferente, se construísse, na relação.

É exatamente por isso que falar dele é uma tarefa difícil, pois como falar de uma pessoa que fundou várias associações e Institutos, foi membro (e fundador) de diversas outras, não só brasileiras, mas também estrangeira e ainda é membro de tantas outras? Como é possível falar de um Ser que orienta dezenas de pessoas nas mais variadas áreas, nos mais variados centros de pesquisas, no Brasil e no exterior, ao mesmo tempo? Como falar de um Ser que do alto de seus 71 anos disponibiliza tempo (e paciência) para falar com orientandos/as e pessoas que mal conhece e que têm interesses dos mais diversos? Como falar de um Ser que hoje está no Japão, antes de ontem esteve na Alemanha, depois de amanhã estará no Rio Grande do Sul, mês que vem estará nos Estados Unidos, há um mês esteve na África orientando alunos, há três meses achou tempo para ficar com sua netinha, há seis meses proferiu um curso na USP apenas com um dos braços em uso - pois o outro estava em recuperação (resultado de um tombo por conta de uma tentativa de assalto na Praça da República em São Paulo)...? Isso apenas para citar uns poucos exemplos da dinâmica vida desse Senhor, sem contar inúmeras palestras proferidas em congressos e eventos diversos, participações em programas de TV´s, revistas, além de vários livros e artigos publicados...

Entretanto, vejo que essa dificuldade de falar de nosso Ubi é coisa inerente a todos os que o rodeiam... Isso ficou explícito em 09 de dezembro de 2002, quando os membros do GEPEm, com o apoio da FE/USP, organizou o “Colóquio Ubiratan D'Ambrosio. Comemoração de seu 70º Aniversário”. Naquele evento, estiveram presentes representantes das mais variadas áreas e associações: Sociedade Brasileira de História da Ciência, Sociedade Brasileira de Educação Matemática, Sociedade Brasileira de História da Matemática, Sociedade de Estudos do Futuro, International Study Group on Ethnomathematics, Associação Internacional para Ciência e Diversidade Cultural, entre outras. Em certo momento do evento, as pessoas presentes que estavam na platéia, sentiram-se motivadas a dar seus depoimentos sobre as influências de Ubi em suas vidas/carreiras/pesquisas. Alguns/algumas, de tão emocionados mal conseguiram se expressar... O evento foi encerrado com um jantar no Clube dos Professores da USP, num ambiente de total descontração e permeado por sorrisos, abraços e a presença carinhosa de nosso mestre... o fundador do Programa de Pesquisa em Etnomatemática...