Harold Johnston 

Neste texto, mostramos um breve relato de como Harold Johnston iniciou sua pesquisa por acaso.
 
Em 1971, quando o Professor Joe Hirschfelder da Universidade de Wisconsin convidou Harold Johnston para uma conferência sobre questões ambientais e transporte por naves supersônicas ( SST ), Johnston nem imaginava que estava fazendo surgir uma das mais excitantes histórias da química ambiental de todos os tempos.
 
Contudo o Professor Johnston disse: "Não obrigado, não me interessa". Como o professor de química da Universidade da Califórnia, Berkeley, Johnston media cuidadosamente dos índices de reações químicas simples em seu laboratório. No ano anterior, havia participado do Projeto Ar Limpo, medindo os índices constantes do fumo fotoquímico - um problema muito sério na Califórnia, Japão, Ìndia, México e muitas outras partes do mundo. No momento de sua pesquisa, Johnston estava desfrutando de seu ano SABATICO e queria buscar novos rumos para sua pesquisas de laboratório. Não estava interessado nas naves supersônicas ( SST ).
 
Por sorte Joe Hirschfelder não considerou que este "não" fosse definitivo. Havia se encontrado com muitos experts neste campo em Boulder, Colorado para o que logo se converteria em uma conferência memorável sobre o tema e queria que Johnston assistisse.
 
O mundo aspirava possuir aviões maiores e mais velozes e esperava com entusiasmo a próxima geração de transporte por aviões que viajariam mais rápido que o som. Em 1971 no Congresso dos Estados Unidos, havia aprovado dois diferentes aviões SST que deveriam de ser construídos pela Boeing Aircraft. O Concorde, da Grã Bretanha e da França, uma nave muito menor, de vôo mais baixo já estava muito mais aperfeiçoada em seu desenvolvimento. Também estavam em progresso os estudos de uma nave SST dos URSS.
 
O professor Johnston havia dado uma olhada em alguns livros antes de participar da reunião, porém era um novato neste campo. Como se sabia que a falta de ozônio na atmosfera poderia produzir cancêr de pele e danos aos olhos, os debates em Boulder foram entusiasmadores e enérgicos, e Johnston haveria de dar sua contribuição inesperadamente.
 
Poucos cientistas especulavam sobre o vapor de água das naves SST poder reduzir o ozônio na estratosfera em torno de 1%, e poucas pessoas pareciam preocupadas.
 
Um grande problema que deveria ser discutido era o equilíbrio do ozônio, a quantidade de ozônio a diferentes alturas por cima da superfície da Terra. Estas qauntidades haviam sido calculadas utilizando as bem conhecidas reações químicas ( o mecanismo de Chapman). Entretanto quando apareceram os foguetes e os balões de investigação, as medidas obtidas em cima da estratosfera não coincidiam com os valores calculados. O efeito era duas ou três vezes maiores. Como poderia ser?
 
Vários cientistas haviam sugerido que se deviam às reações que envolviam as espécies derivadas da água, espécies como o radical hidroxilo, HO., e o radical hidroperóxido, HO2. . Deste modo, ao iniciar a reunião de Boulder, o tema principal foi o vapor de água na atmosfera. Porém a evidência experimental mais recente, sobre a qual os cientistas haviam estudado as reações destes radicais em seus laboratórios, estava em desacordo com esta teoria. Outro candidato para explicar a falta de ozônio era o óxido nítrico. Paul Crutzen, um jovem cientista alemão, havia sugerido antes da reunião de Boulder, que o óxido nítrico poderia causar uma reação em cadeia se em concentrações abundantes.
 
No primeiro dia, Johnston obteve a realização de seus esforços em laboratório de maneira inesperada. Ao final de uma conferência, sugeria-se que grandes quantidades ( 25 ppb ) de óxidos de nitrogênio (NOx) produzidos pelo homem poderiam causar uma pequena diminuição do ozônio estratosférico. Johnston levantou-se no fundo da sala e disse acreditar que alguns dos índices de reações estavam equivocados por um fator de 100 ou 1.000, ou seja, uma quantidade muito grande.
 
Na noite seguinte, trabalhando arduamentee com uma velha calculadora, estimando as concentrações naturais de Nox atmosférico a partir de seus próprios dados e das do orador do dia anterior, descobriu que o orador havia cometido um erro. Ocorreu mais ou menos desta maneira.
 
. Determinar os valores de reações tão rápidas ´e verdadeiramente difícil. Por isso, os cientistas experimentais sempre adotam margens de erro em seus dados. O orador estava usando valores obtidos de ambos os extremos destas margens. A conclusão de Johnston foi que as naves SST podiam marcar uma grande diferença na concentração de ozônio na estratosfera e ele obteve o consenso dos outros cientistas presentes na reunião.
 
Diante da controvérsia de 1971, o Congresso dos Estados Unidos solicitou um programa amplo de investigação interdisciplinar, e a nave SST norteamericana não foi construída.
 
Nos anos seguintes, tornou-se evidente que os átomos de cloro também possuem um papel similar ao do óxido nítrico na destruição catalítica do ozônio. Ao final, os principais acusados nos últimos vinte anos têm sido os clorofluorcarbonos ( CFC ) produzidos pelo homem. Já se foram muitos anos de medidas do CFC em todo o mundo. Sherry Rowland, da Universidade da Califórnia, Irvine, Mario Molina, que agora estão no Massachusetts Institute of Technology de Boston, e Jim Anderson da Universidade de Harvard, também em Boston têm feito importantes contribuições. Este esforços levaram a um acordo internacional para controlar a fabricação e o uso dos CFC, chamado de Protocolo de Montreal, primeiramente firmado em 1987, consolidado em 1990 e que vem sendo atualmente reavaliado.
 
Joe Hirschfelder nos fez um grande favor ao convencer a Harold Johnston de que fizesse suas malas para ir a Boulder e de que lesse uns poucos livros antes do congresso .


L@PEQ - FEUSP 
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