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Há uma outra forma de problematização que pode desencadear uma atitude investigativa mais refinada, particularmente útil para o desenvolvimento da racionalidade científica. Como questão aberta, poderíamos propor: 7) quais são os elementos essenciais para a ocorrência do fogo ? Nesse caso, o trabalho de condução da discussão pelo professor é parte fundamental para que se alcance um objetivo importante, que é a formulação e a testagem de hipóteses. Combustível e iniciador são elementos tangíveis do sistema vela em combustão. Na ausência de uma chama inicializadora não se observa a queima da vela, da mesma forma que se a parafina for toda consumida, a queima do combustível cessa. No entanto, o oxigênio, ou mesmo algum componente do ar, não é de forma alguma explicitamente observável no sistema, a menos do movimento que se produz na chama da vela, quando se agita a mão nos seus arredores. Indiretamente o ar se faz presente. 8) Como então sugerir a necessidade de ar para que ocorra a queima dos corpos ?(Ver o vídeo) Podemos formular e testar a hipótese de que se isolarmos o sistema vela queimando da vizinhança, onde o ar se faz presente em quantidade abundante, em algum momento a queima cessará. Esse processo é extremamente rico para as finalidades que se deseja atingir com o ensino de ciências e seguramente há uma dinâmica muito própria de cada grupo de alunos que deve ser respeitada para que esse processo se concretize com eficiência. A parte desse aspecto muito importante para o pleno desenvolvimento das aulas de ciências, vale ressaltar que estamos diante de uma situação onde o que vale não é a resposta pura e simples a questão 7, mas sim a necessidade de estabelecermos laços mais fortes entre o fenômeno, que outrora era "simplesmente" observado e que agora passa a ser ativamente alterado, e o sujeito, que ora o lia e interpretava de acordo com sua visão particular de mundo e agora pode fazê-lo com alguns critérios de valor para a comunidade científica. É portanto, através de instrumentos próprios da comunidade científica que o sujeito se aproxima do fenômeno de modo a constituir uma visão de mundo mais de acordo com o conhecimento científico. Além da agudeza da observação, podemos trabalhar outros procedimentos importantes para o desenvolvimento de uma racionalidade científica entre os alunos. Nesse caso em particular, a variação dos volumes de ar no entorno da vela pode ser contraposta ao tempo que o sistema permanece em combustão. A comparação entre as relações das variações de volume de ar e tempo que a vela permanece acesa é um fator de construção do argumento para responder a questão 8. Assim, pode-se propor uma variação do volume de recipientes que encerram a vela e a medição dos respectivos tempos de duração da combustão. Fatores comparativos como média, progressão, proporção estão presentes nesse processo de medidas, cuja consolidação pode se dar na forma de tabelas e gráficos. De posse desses novos elementos argumentativos, os alunos têm condições de reelaborar suas narrativas no sentido de lhes conferir maior rigor para a defesa de suas hipóteses. Esse processo de reelaboração não pode ser perdido de vista, pois é a partir dele que novos significados são atribuídos ao fenômeno por meio da incorporação de novos termos, que são próprios da cultura científica.
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L@PEQ |
Dep.
de Metodologia do Ensino e Educação Comparada. |