Iremos estudar um dos fenômenos mais importantes da natureza, cujo entendimento e controle desafiam a humanidade desde longa data: o fogo. Acredita-se que muito antes do Homo sapiens ter surgido, esse fenômeno já se constituía em fonte de fascínio e disputa entre outros gêneros humanos. Uma excelente produção cinematográfica francesa, A Guerra do Fogo (1981, de Jean-Jacques Annaud), narra a história das relações de um clã com o fogo e pode servir como contexto para o entendimento de quanto essa tecnologia é essencial à vida humana. Como tecnologia de transformação da matéria, o fogo é muito provavelmente o primeiro recurso incorporado ao cotidiano da nossa espécie, servindo de meio de defesa, aquecimento, cozimento, iluminação etc. Como mecanismo de defesa, o fogo pode ter contribuído para fixar o homem no chão, que poderia assim deixar as árvores como refúgio noturno ou quando da eminência de algum ataque. O fogo serve também como fonte de aquecimento e iluminação de ambientes, tornando-os mais agradáveis nos períodos de inverno e permitindo o desenvolvimento de hábitos noturnos dependentes da visão. Mas, a capacidade de cozer alimentos talvez tenha sido a experiência de controle refinada de processos que associou-se mais decisivamente a outros processos sócio-culturais de alto valor para a organização da humanidade. A diversidade de relações estabelecidas pelos coletivos com essa tecnologia em particular é um bom exemplo dos antagonismos inerentes aos processos desencadeados pela tentativa da humanidade de dominar os fenômenos naturais e subjulgá-los aos padrões sócio-culturais construídos. O desenvolvimento de técnicas para acessar e controlar fenômenos é tradicionalmente reconhecido como fator de progresso científico e de acúmulo de conhecimento e guarda estreitas aproximações com as normas sociais, como por exemplo a utilização de fogões à gás nas residências como meio de processar alimentos, ou o uso de caldeiras para a fundição de metais. Antes de examinarmos mais de perto as características do fogo, é preciso observar a estreita correlação entre os desenvolvimentos de técnicas, e nesse sentido do conhecimento científico, e as mudanças de comportamento humano. Nessa medida, a tecnologia do fogo, e de alguma maneira o conhecimento científico a ela atrelado, deve ser reconhecida como um fenômeno sócio-culturalmente condicionado, o que impede a desconsideração de fatores históricos e culturais quando se deseja aprofundar o seu entendimento pelo sujeito ou grupo social.
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L@PEQ |
Dep.
de Metodologia do Ensino e Educação Comparada. |