|
Corrosão, ameaça oculta
Futebol à parte, o dia 19 de julho de 1992 foi o mais trágico da história do Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Durante a final do Campeonato Brasileiro de 1992, entre Botafogo e Flamengo, a velha grade de proteção de uma parte da arquibancada não resistiu ao entusiasmo da torcida e desabou, provocando a morte de três pessoas e ferimentos graves em outras 20. O estádio foi interditado. Foram precisos sete meses de trabalho e 400 mil dólares para controlar a grande ameaça que se espalhava por quase todo o anel de concreto do maior estádio de futebol do mundo, afetando marquises, túneis de acesso, refletores e até os pilares de sustentação dos imensos placares eletrônicos: a corrosão. As cenas dramáticas do desabamento, exibidas ao vivo pela tevê, chocaram a população. Mas o estrago invisível que a corrosão provoca diariamente em centenas, milhares de outras obras pode ser muito mais grave. Essa praga gera ao país um prejuízo superior a 10,5 bilhões de dólares por ano, ou seja, mais de 3% de seu Produto Interno Bruto (PIB), que é de 350 bilhões de dólares, e cinco vezes o investimento total do país em ciência e tecnologia. E o que é pior: coloca parte da população em risco 24 horas por dia. A corrosão que atacou o Maracanã também atinge nossos carros, encanamentos de água, as marquises sobre nossas cabeças e os viadutos sob nossos pés. Um dos exemplos mais assustadores dessa ameaça ocorre na Ponte Rio-Niterói, um portentoso monumento de concreto e aço de 13 quilômetros de extensão que cruza a poluída Baía de Guanabara, ligando o Rio de Janeiro a Niterói e às praias do norte do Estado. A ponte recebe, pela água, partículas de alta salinidade, além de, pelo ar, ser bombardeada por poeira e sulfato liberado pelos automóveis e indústrias. Resumindo: ela é um prato cheio para a voracidade da corrosão.
* Entende-se por corrosão a deterioração de qualquer tipo de material
O risco das próteses: a ferrugem que ataca dentro do corpo Nenhum lugar do mundo está a salvo da praga da corrosão. Nem mesmo o interior do corpo humano. Em medicina e odontologia são utilizados diferentes tipos de restauração e implantes metálicos que sofrem constante risco de oxidação. Não são raros, por exemplo, os casos de corrosão em implantes dentários de amálgama (uma liga de mercúrio, prata e estanho) e nos aparelhos usados para correção de arcadas dentárias. A ação da saliva e de alimentos, alcalinos ou ácidos, é uma das principais causas dessa degradação. Mas é no campo da ortopedia que se localizam os problemas mais graves. Dezenas de implantes metálicos são utilizados nessa área da medicina, desde fios de aço para sutura até os implantes que substituem ossos inteiros ou articulações. Os materiais de osteossíntese, ou seja, aqueles usados para consolidar fraturas ósseas, têm, geralmente, uma vida útil bem definida. Quase sempre são retirados assim que osso se restabelece, antes que a corrosão o danifique. No entanto, as próteses ortopédicas têm uso por tempo prolongado e sofrem com o meio altamente agressivo que constitui o organismo humano, cujos fluidos, ricos em cloreto de sódio, estimulam a corrosão. "Elas deveriam acompanhar o paciente pela vida inteira, mas duram no máximo uns 15 anos", diz o engenheiro mecânico Tomaz Puga Leivas, chefe do Laboratório de Biomecânica do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas, em São Paulo. Para evitar esse problema, surgem materiais cada vez mais resistentes. Atualmente, o melhor deles é o titânio, um material muito empregado pela indústria aeronáutica. Também é bastante utilizado, sobretudo nos Estados Unidos, o Vitallium, uma liga de cromo, cobalto e molibdênio. No Brasil, o material mais empregado é o aço inoxidável. Questão de custo. Uma prótese de quadril, uma das mais caras, custa em torno de 700 dólares quando feita de aço. Com o uso do titânio esse preço sobe para 1500 dólares ou mais. Uma grande vantagem do titânio sobre o aço inoxidável é sua leveza. Não por acaso, ele tem sido utilizado em fuselagem de aviões. Mas não é esta sua maior virtude. Na realidade, o titânio é muito mais resistente à oxidação que o aço chamado (indevidamente) de inoxidável. "Não existe aço que não sofra corrosão. O nome inoxidável apenas qualifica aços mais resistentes", esclarece Tomaz Leivas. Ele explica que, enquanto o aço comum é formado por ferro e carbono, sendo facilmente oxidado, o aço inoxidável empregado em implantes ortopédicos - um tipo especial de aço não magnético chamado de "austenítico" - tem, ainda, níquel e cromo em sua composição química. O níquel e o cromo aumentam sua resistência à corrosão, por meio de uma reação do cromo com o oxigênio. Forma-se uma película de óxido de cromo na superfície do aço, que atuará como um protetor impermeabilizante. Contudo, se durante uma cirurgia houver qualquer arranhão na prótese a ser implantada, está aberto o caminho para a corrosão. Próteses corroídas devem, na maioria dos casos, ser substituídas - o que também traz conseqüências negativas. A cada operação, por exemplo, o osso que sustenta o implante vai perdendo resistência. Sem contar os riscos de vida a que se submete o paciente durante uma cirurgia. Mas não trocar o implante desgastado pode ser ainda pior. A tendência natural é que a prótese corroída cause uma reação de biocompatibilidade, ou seja, uma rejeição, e comece a se soltar dentro do organismo, causando uma intensa dor. Ou, o que é ainda mais grave, sofrer uma quebra repentina, tal como ocorreu com a grade do Estádio do Maracanã. De acordo com o texto, responda as questões:
Bibliografia: Globo Ciência, abril de 1993
|
[Importância econômica] [Obtenção dos Materiais] [Idenficação dos Materiais] [Corrosão]
[Enferrujamento] [Opicional-Galvanização] [Poluição] [Bibliografia]
© - 2000 Laboratório de
Pesquisa em Ensino de Química
Atualizado em 01/06/2000